Artistas enviados a Paris.

  • Referência
    D., «Tipografia Portuguesa — Melhoramentos na Imprensa Nacional», A Federação. Folha Industrial dedicada às classes operarias, n.º 34, de 22 de maio de 1858, pp. 1-2.
Assunto

Elogio ao trabalho dos artistas da Imprensa Nacional enviados a Paris.

Ficha

«Grande, sublime foi o pensamento que tivera o ilustre estadista marquês de Pombal, propondo e conseguindo d’el-rei D. José I a aprovação do plano para que — em comum benefício de seus fiéis vassalos se erigisse imediatamente uma oficina tipográfica, que fosse útil e respeitável pela abundância e asseio de suas impressões.
Cerca de um século tem decorrido desde a fundação da Imprensa Nacional de Lisboa, e o seu aperfeiçoamento vagaroso, pausado, mas sempre crescente, profícuo, maravilhoso, ei-lo aí campeia aproveitando a mais de uma indústria, a todas, porque todas elas nascem, crescem e prosperam, como é indubitável, sob o benéfico, o vivificante influxo da imprensa, sem a qual não há liberdade, não há civilização, não há progresso.
A criação e conservação de um estabelecimento como a Imprensa Nacional, foi por consequência um pensamento generoso, e como tal, seguindo de administração para administração, tem produzido óptimos e valiosos resultados.
Que fosse útil — pela abundância e asseio de suas impressões — não o esqueceram os primeiros administradores até 1833; que além daquele fim, servisse também de modelo às tipografias particulares, é incontestavelmente o empenho dos que desde aquela época lhes têm sucedido.
A verdade não está só na teoria; está nos factos, e estes em mais de uma ocasião, e por toda a imprensa periódica, estão singela, mas distintamente expostos. O que não estarão talvez é suficientemente reproduzidos a ponto de chegarem às mãos de todos os operários. Neste pressuposto deliberámos transcrevê-los também para as colunas da Federação, cujos assinantes, pela maior parte industriais, hão-de apreciar um trabalho a que estão ligados os interesses de mais de uma classe.
Começando a publicação do relatório dos artistas comissionados em Paris, a expensas da Imprensa Nacional, para estudar os melhoramentos da arte tipográfica na Imprensa Imperial, e visitar ao mesmo tempo outras também importantes daquela ilustrada cidade, rematá-la-emos com a notícia histórica deste estabelecimento, que acompanha o relatório apresentado em ministério do reino em 28 de Abril de 1855 pelo actual administrador o sr. Conselheiro Firmo Augusto Pereira Marecos.
Por tão interessante quanto verdadeiro documento ver-se-á exalçado o discreto pensamento do nobre estadista, e ratificada a boa opinião que da Imprensa Nacional formam os seus imparciais e sinceros julgadores.
Ver-se-á que o actual administrador, autorizado superiormente para ir a Inglaterra, a França e à Bélgica ver e examinar as oficinas tipográficas mais acreditadas das respectivas capitais, e tratar de várias compras relativas à Imprensa Nacional, foi além da sua missão, e obteve, pelas íntimas relações de amizade que estabeleceu com a Imprensa Imperial de França, que dois artistas fossem ali aperfeiçoar-se praticamente, e cujos aperfeiçoamentos deviam ser aqui oportunamente introduzidos.
Obtida uma tão valiosa concessão, alcançado mais este importante serviço, a bem da imprensa portuguesa, pelo sr. Conselheiro Marecos, restava-lhe escolher os artistas que deviam completar a obra, para a qual seu querido irmão dera também, como administrador geral da Imprensa Nacional, os primeiros e não menos importantes traços.
Feita a escolha, esta recaiu nos srs. José Maurício Veloso e Francisco de Paula Nogueira: era aqui o lugar de enumerar os dotes morais e artísticos de cada um destes artistas, mas pede a modéstia deles, e sobretudo a mui estreita amizade que nos liga a ambos, que o não façamos.
Aí estão os documentos oficiais que são insuspeitos, e que podem muito melhor atestar se foi ou não acertada a sua escolha para tal comissão.
Aí estão muitos cavalheiros, que gozaram França na época em que os srs. Veloso e Nogueira ali estiveram, e que atestam igualmente o seu zelo, a sua dedicação constante no melhor desempenho da sua comissão, sem lhes importar — e ainda tão moços — com as distrações frequentes e sedutoras que se dão em Paris.
Aí estão cartas particulares de eminentes escritores e de distintos artistas franceses que ratificam aquelas atestações.
Aí estão finalmente o nosso governo, o sr. Administrador, alguns dos nossos escritores, e muitos dos nossos operários a louvarem o seu relatório, e a declararem que a pena que o traçou é digna de todo o elogio, que os artistas comissionados desempenharam cabalmente a sua incumbência, que a Imprensa Nacional granjeou para si importantes melhoramentos, subidas vantagens, que mais tarde devem reflectir em toda a tipografia portuguesa, e que algumas já alcançaram, como se conhece do referido relatório que adiante estampamos, precedido do ofício que subiu conjuntamente ao ministério dos negócios do reino. — D.»