Doação por Berta Carvalho ao Ministério do Trabalho.

  • Referência
    «Readmitida na Imprensa Nacional faz doação de vencimentos», A Capital, de 20 de setembro de 1974.
Assunto

Doação por Berta Carvalho, ao Ministério do Trabalho, do primeiro salário recebido da INCM após a sua readmissão.

Ficha

«Já tinha perdido totalmente a esperança de vir a ser readmitida na Imprensa Nacional. Daí a minha atitude — foram as primeira palavras de Berta Fonseca do Carmo Carvalho, presentemente retida no leito. Depois a história, que revela toda uma vida de luta. Reintegrada por decreto do Governo Provisório naquela empresa pública, decidiu entregar o primeiro ordenado que recebeu, na totalidade de 4925$00, ao Ministério do Trabalho. E acentuou:
— Foi a minha homenagem ao Movimento das Forças Armadas que deram a liberdade ao País.
[…]

A dolorosa recordação
[…]
— Ainda não tinha 20 anos e já vendia rifas para o ‘Socorro Vermelho’. Entrei para a Imprensa Nacional como costureira encadernadora em 1943. Aí desenvolvi uma atividade ‘comercial’ mais ampla. Era preciso arranjar dinheiro e no meu vestiário tinha sempre tabaco, pentes, garrafas de vinho do Porto.
Graceja:
— Até vendia a crédito, mas todas as importâncias apuradas eram destinadas ao P. C. P.
Prossegue:
— Um dia fui chamada ao gabinete dos administradores. Nenhum deles lá se encontrava. Deparei com uma brigada da PIDE chefiada pelo sinistro Mortágua. Nem me deixaram mudar de roupa. Fui conduzida para a Rua António Maria Cardoso tal como estava a trabalhar: de sapatos velhos e bata preta. Aí começaram os interrogatórios, que me pareceram infindáveis. Nunca me bateram, mas os impropérios eram constantes porque eu recusava-me a denunciar os meus camaradas. Mantiveram-me incomunicável durante três meses em Caxias. Só depois de muito gritar me levaram para a cela 6. E lá prosseguiram os interrogatórios, que se prolongavam por dias inteiros. Mantiveram-me em Caxias dez meses detida sem julgamento. Quando, enfim, compareci perante o juiz, foi aplicada a pena de 16 meses, mas suspensa. […]

Mário Soares foi o defensor
O terceiro ordenado que receber da Imprensa Nacional também já tem destino: será entregue ao Partido Socialista, como homenagem ao Dr. Mário Soares, que foi o meu advogado no tribunal num debate conhecido pelo ‘processo dos 21’ pois tantos eram os operários acusados de atividades comunistas. […]»