«No ofício que tive a honra de dirigir a V. Ex.ª em dezembro último, acompanhando as contas de receita e despesa do ano económico de 1930-1931, afirmei que a Imprensa Nacional atravessava uma crise grave, e para esse facto assustador procurei chamar a particular atenção de V. Ex.ª, na esperança de que seriam postas em prática medidas de largo alcance próprias para debelar o mal e promover o crédito e progresso do estabelecimento.
Hoje, depondo nas mãos de V. Ex.ª as contas respeitantes ao 1.º semestre de 1931-1932, não posso ocultar a mágoa que me oprime, ao ver que, em vez de diminuir, o mal alastra e dia a dia mais se intensifica, tornando cada vez mais urgente a adoção de providências que energicamente ponham termo às circunstâncias precárias em que infelizmente nos encontramos.
E, para comprovar o meu asserto, permita V. Ex.ª que em poucas palavras, mas com auxílio de alguns números, procure esclarecer o que acabo de afirmar.
No ano de 1930-1931, pondo em confronto a soma global das despesas de todas as oficinas, secções e armazéns, na importância de 10 026 024$95, com a receita obtida e que se limitou a escudos 8 870 022$76, constatamos que existia um deficit de 1 156 002$19. Comparando, porém, as verbas de 8 870 022$76 e 8 790 290$23, respetivamente receita e despesa das secções que produzem receita, achamos um saldo de 79 732$53 que, deduzido do deficit total, o reduz a 1 076 269$66.
Vejamos agora, pelo mesmo processo de contas, o que se dá com o 1.º semestre de 1931-1932:
Despesa total: 4 997 427$69
Receita: 4 148 154$25
Deficit: 849 237$44
Infelizmente, porém, no presente semestre nada temos a deduzir neste deficit, porque, ao contrário do que sucedeu no ano anterior, sendo a despesa das secções, oficinas e armazéns que produzem receita na importância de 826 860$12 e a receita apenas de 678 826$10, verificamos que esta é interior àquela em escudos 148 040$02, que evidentemente teremos de adicionar ao deficit acima descrito, elevando-o, portanto, a 997 313$46.
Apenas uma diferença de 78 956$20 do deficit do ano completo anterior!
Interessante me parece apontar algumas das causas deste resultado que bem a descoberto põe a crise em que nos debatemos, e para isso se elaborou o pequeno mapa comparativo das despesas e receitas de algumas secções no 1.º semestre do ano transato, para facilmente se fazer o confronto com o atual ano.
Por ele vemos que a produção da oficina tipográfica, excetuando a secção do Diário do Governo, onde se verifica sempre um saldo apreciável, teve como resultado em qualquer dos semestres um deficit de 80 000$00, números redondos; que a Secção Litográfica, com uma despesa aproximada à do ano transato, produziu neste semestre menos 14 000$00; e que a Oficina de Impressão teve uma descida na produção de 91 000$00 com um aumento de escudos 17 000$00 na verba da despesa com pessoal, acusando uma diferença para mais no déficit geral de 70 000$00.
E não sendo ainda isto bastante, há a notar a enorme descida na venda de impressos, no respetivo Armazém, que tendo sido de 1 634 000$00 no 1.º semestre do ano passado, neste se encontra reduzida a 983 000$00!
[…]
Da exposição que faço, embora talvez defeituosa na forma, creio, porém, que resulta a gravidade da situação que a Imprensa Nacional atravessa e a necessidade de medidas que a equilibrem economicamente.»