“Minuta de Ofício ao Ministério do Reino
Ill.mo e Ex.mo Sr.
Em aditamento ao ofício que tive a honra de dirigir a V. Ex.ª em 26 de Março próximo passado, acompanhado o Relatório que me dirigiral os artistas tipografos deste Estabelecimento, José Maurício Veloso e Francisco de Paula Nogueira, que foram admitidos na Imprensa Imprerial de França para se aperfeiçoarem na arte que professam, permita-me V. Ex.ª que eu exponha algumas circunstâncias que não me pareceu acertado dizer naquela ocasião, por contar que V. Ex.ª se dignaria de mandar publicar o dito ofício no Diário do Governo, como efectivamente teve lugar no dia 26 de Abril último.
Quando eu voltei de Paris em Dezembro de 1854, por ter terminado a Comissão de que fui encarregado, de estudar em Inglaterra, França e Bélgica os progressos da tipografia naqueles países, e de comprar um grande prelo mecânico para esta Casa, e outros objectos de que carecia a Imprensa Nacional, dirigi pelo Ministério do Reino, em 28 de Abril de 1855, um relatório minucioso e documentada de todas as circuntâncias que tinham imediata relação com o objecto de que havida sido incumbido, e por essa ocasião disse que fora na Imprensa Imprerial de França onde eu tinha colhido maior fruto das minhas investigações e estudos, devendo especialmente este resultado à benevolência do Director Geral daquele grandioso Estabelecimento, Mr. de Saint-Georges, ao seu dig.º Secretário Mr. Escodeca[?], Marquês de Boisse, e ao chefe de serviço Mr. Rousseau.
Por espaço de quatro meses que estive em Paris, bem poucos dias de ir à Imprensa Imperial, e sempre encontrei o mesmo acolhimento, consideração e amizade de tão dignos Empregados.
Depois de levar ao conhecimento do Governo de Sua Magestade o meu relatório, que foi publicado no Diário do Governo de 9 de Maio de 1855, achando-se então em Lisboa o Sr. Barão de Paiva, Ministro de Portugal em França, e por cuja intervenção eu fui tão obsequiado na Imprensa Imperial, representou o mesmo Braão pelo Ministério do Reino, de acordo comigo, quando seria conveniente dar o Governo Português um testemunho de gratidão áqueles ilustres Funcionários Franceses. Sua Magestade Dignou-se de agraciar com a comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa Mr. de Saint-Georges, e com os Hábitos da mesma ordem Mr. Escoldeca e Mr. Rousseau; sendo o Barão de Paiva encarregado, no seu refresso a Paris, de entregar aos agraciados os respectivos diplomas e condecoração. Imediatamente eu recebi deles os mais lisonjeiros ofícios em que patenteavam o seu reconhecimento ao Governo Português, e de novo se ofereciam para tudo quanto estivesse ao seu alcance. Foram para Paris os artistas portugueses da Imprensa Nacional de Lisboa para praticarem na Imprensa Imperial, como me havia prometido Mr. de Saint-Georges, ali estiveram nove meses, tratados como filhos daquela Casa, entregues aos mais distintos artistas, que sempre se houveram com ele da mesma maneira mais cordial e mais franca, ensinando-os com a melhor vontade, e prestando-se até a acompanhá-los fora da Imprensa Imperial para examinarem as machinas e demais objectos que tinham sido comprados para esta Casa. Os nomes e empregos destes mestres são Mr. Felix Derénémenil, inspector dos trabalhos tipográficos, Mr. Auguste Gérard, contra-mestre da oficina de impressão tipográfica, e Mr. Persin, chefe machinista. Sendo certo que aos cuidados destes hábeis artistas devem os nossos tipógrafos o seu tão útil ensino, cujo resultado há de influir poderosamente para o aperfeiçoamento da Imprensa Nacional e para o da tipografia portuguesa em geral, ouso eu pedir a V. Ex.ª que, a exemplo do que teve lugar com os outros empregados da Imprensa Nacional de França, queira V. Ex.ª alcançar de Sua Magestade a graça de condecorar os ditos três mestres dos nossos tipógrafos; a saber: o 1º com o hábito de Nossa Senhora da Conceição, por ser o mais graduado e ter a Legião de Honra, e os dois outros com o Hábito de Cristo. Deste modo, me parece, daremos um testemunho de reconhecimento e gratidão não só aos agraciados, mas ao Governo francês, e poderemos contar sempre com a valiosa protecção da Imprensa Imperial de França, de que já temos colhido os mais profícuos resultados. Espero que V. Ex.ª se dignará de tomar em sua judiciosa consideração o que levo dito, a fim de que se realize o objecto que tive em vista para honra do Governo de Sua Magestade, e justo reconhecimento dos bons serviços qe nos prestaram aqueles estrangeiros.
(…) Lisboa e Administração Geral da Imprensa Nacional, 7 de Março de 1858
Ill.mo e Ex.mo Sr. Marquês de Loulé,
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino
O Administrador Geral
F. A. P. Marecos” (doc. Nº 36)