Aniversário da República.

  • Referência
    «Solidariedade — A festa na Imprensa Nacional — Sua significação e intuitos», O Mundo, n.º 5472, de 4 de outubro de 1915, p. 3.
Assunto

Celebração do aniversário da República na Imprensa Nacional.

Ficha

«Realiza-se há quatro anos, e parece que já tem uma velha tradição, tanto no seu brilhantismo se confia e dela se espera sempre alguma coisa de novo, de inédito, de interessante a sobressair dos demais números com que o povo republicano costuma festejar o aniversário da data libertadora do 5 de Outubro. Porque as festas da Imprensa Nacional — já repararam? — têm sempre dois aspetos, qual deles o mais curioso — sendo, por assim dizer, umas solenidades oficiais, tomam um caráter popular, sem a rigidez que estamos habituados a notar em tudo quanto é oficial, realizando-se com uma simplicidade encantadora, sem complicações de nenhuma espécie, demonstrando sempre a mais estreita solidariedade e delas ficando também sempre alguma coisa mais do que a sua recordação, porque tendem invariavelmente a um fim útil, a que as outras geralmente não visam. Não é só com entusiasmo que naquela casa de trabalho, onde a República tem à farta demonstrado que existe, que é sempre acolhida a data do 5 de Outubro. Há ali mais alguma coisa — o propósito firme de levantar o espírito, de educar, de traduzir em factos a solidariedade que é indispensável para que isto caminhe, para que os esforços se conjuguem, para que a Pátria viva. A festa de hoje é, como já se disse, dedicada aos filhos dos funcionários, artistas e operários da Imprensa. A do ano passado não se efetuou, em virtude de ter estalado a guerra, na esperança de que o conflito europeu não chegasse até hoje e ela se pudesse realizar em paz. Não sucedeu, porém, assim, infelizmente e visto que a guerra continua, tinha-se resolvido que também este ano se não fizesse. Mas o Sr. presidente do governo, manifestou o desejo de que ela se realizasse como nos primeiros anos. Em vista disso foi convocada a comissão e expostos tais desejos não foi preciso mais nada. A comissão nomeou várias subcomissões e começou a trabalhar-se afincadamente. Nada tem faltado, desde o concurso da Câmara Municipal ao de várias coletividades republicanas e ao do ilustre diretor geral da fazenda pública, que autorizou o empréstimo de vários objetos dos palácios de Queluz e da Ajuda.
As festas fazem-se por quotização entre o pessoal da Imprensa, reforçada com várias verbas de amigos do estabelecimento. Eram destinadas à festa do ano passado, mas como não se realizou são gastas este ano. Tem-se trabalhado com amor. Anteontem, depois de terminado o serviço, começou a transformar-se a oficina de impressão em uma vastíssima sala, onde se deve realizar o lanche da pequenada e onde serão recebidos o atual presidente da República e o novo presidente eleito. O alto magistrado da nação presidirá à festa das crianças. E quem como nós está habituado a assistir a estas festas dos pequeninos, sempre encantadoras, interessantíssimas sempre, não perderá essa maravilha, essa alta lição de solidariedade, visto que à mesa não haverá distinções, como as não há no refeitório do estabelecimento, sentando-se os filhos dos funcionários superiores ao lado dos mais modestos empregados. […] A entrada na Imprensa Nacional faz-se por bilhetes, os quais já estão esgotados.»