Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    Docs. Do Gab. do Adm. Bebiano (1929-1955), cx. 4
  • Tipo de documento
    Relatório
  • De:
    Subchefe da Oficina de Composição, João Matos Soares
  • Para:
Transcrição

«Em cumprimento da determinação de V. Ex.ª tenho a honra de vir expor o que se me oferece dizer acerca da oficina de composição hoje a meu cargo em virtude de se achar ausente por motivo de doença o seu chefe o Sr. Carlos Augusto de Carvalho.
Em três pontos se resume este simples relatório.
1.º Melhoramentos a introduzir na oficina:
Sobre este assunto lembro ser de grande conveniência a construção de um elevador que ligue o Depósito da Oficina com a Arrecadação anexa ao mesmo Depósito, a qual, por falta de espaço, não pode ficar no mesmo pavimento. Este elevador facilitaria a comunicação entre os dois depósitos cujo movimento entre si e com relação à oficina tem aumentado sensivelmente nos últimos tempos. Um grande defeito tem esta oficina e para ele chamo também a atenção de V. Ex.ª: – a falta de luz natural.
Em dias escuros é necessário acender toda a iluminação e, mesmo em dias claros, lugares há que a não dispensam durante uma grande parte do dia. Notando este grande inconveniente tenho ouvido a várias pessoas que, por motivo de serviço visitam a oficina, que, se se construíssem claraboias ao centro das casas, ficaria uma oficina suficientemente iluminada. Não sei se será fácil essa modificação, que, a conseguir-se, representaria a par de um bom melhoramento, uma grande economia para o Estabelecimento no consumo de energia elétrica.
2.º Substituição e aquisição de material tipográfico:
Com relação a este ponto devo dizer a V. Ex.ª que alguma coisa se tem feito nos últimos anos, adquirindo-se diversos tipos de fantasia e aumentando-se consideravelmente o material em circulação. Apesar, porém, do que se tem feito, muito há ainda para fazer, pois muito se ressente esta oficina da falta de mais tipos novos e de uma coleção de filetes de latão de medidas pequenas, a qual, já há muito tempo foi pedida pelo chefe da oficina o Sr. Carlos Augusto de Carvalho.
Esta aquisição ficará, sem dúvida, em elevado preço, mas, pela sua duração, será de resultados económicos para o estabelecimento, por se evitar a fundição constante de filetes de chumbo, os quais muitas vezes depois de um única impressão têm de ser inutilizados. Dificuldades de ordem superior, certamente independentes da boa vontade dos dirigentes, tem obstado a que se não tenha atendido ainda a todas estas necessidades, visto isso depender do desenvolvimento das oficinas de fundição e gravura, que talvez por falta de verba forçada no orçamento do Estado para esse fim, não tenham podido ser dotadas com os maquinismos necessários.
3.º Organização da oficina:
A este respeito foram apresentadas, ao antecessor de V. Ex.ª, várias reclamações feitas pelo pessoal, as quais, em parte não tiveram ainda solução, mas sobre elas já deram parecer verbal o Sr. Inspetor das oficinas e os dirigentes da oficina de composição. Por este motivo julgo dever abster-me, por agora, de apresentar considerações sobre este assunto.
A um caso que se liga intimamente com o funcionamento da oficina tenho, porém, de me referir. Em duas secções de tabelas e uma de composição cheia foi recentemente iniciado o trabalho em comandita e são já manifestas as vantagens resultantes deste sistema de trabalho, com especialidade nas duas secções de tabelas, nas quais aumentou consideravelmente a produção mercê do melhor aproveitamento de aptidões de que resultou maior facilidade para o trabalho. Tem, todavia, um defeito moral esta nova organização de trabalho e é meu dever não o ocultar a V. Ex.ª: é a gratificação arbitrada pelo pessoal aos dirigentes das duas secções, os quais têm remuneração fixa paga pelo estabelecimento. Este pequeno senão sugeriu-me lembrar a V.Ex.ª se seria preferível estabelecer nas duas secções de tabelas o sistema de trabalho de jornal, sem dúvida, muito superior, moralmente, ao regime da empreitada, concedendo ao pessoal todas as regalias que os jornaleiros possuem mas exigindo-se-lhes também o cumprimento dos deveres a que ficarão obrigados.
Para a organização das diversas classes de vencimentos que necessariamente seria preciso estabelecer em conformidade com as aptidões de cada um, alguma coisa se poderia aproveitar do que já existe organizado pelo próprio pessoal. Não constitui novidade o que acabo de propor a V. Ex.ª pois muito se tem falado sobre este assunto, obstando sempre a que se tenha posto em prática o receio de que diminuísse a produção. É certo que o pessoal trabalhando de jornal não terá o mesmo entusiasmo com que trabalha de empreitada mas talvez se pudesse obviar a este inconveniente estabelecendo, para estímulo, que uma percentagem do excesso do valor do trabalho produzido sobre a despesa da secção, revertesse a favor do pessoal da mesma secção, interessando assim chefes e subordinados na proporção dos seus vencimentos.
Para se adotar este regime de trabalho não seria necessário recorrer a processos novos, bastando seguir os que estão sendo adotados nas comanditas, na direção das quais os chefes das secções têm dado sobejas provas da sua competência. Para aumentar a produção de cada uma das secções muito poderiam contribuir os aproveitamentos de formas que se guardariam consoante os recursos do material o permitissem.»