Falemos do senhor Castelo Branco. Mas do que interessa.
Há uns anos, o JL convidou-me para escrever um depoimento sobre Camilo. Entre a irreverência da juventude e um trauma juvenil, escrevi algumas considerações. Agora, sei, certamente injustas. Não à obra do senhor de Seide, mas àquilo que faziam com a figura em Famalicão por alturas da minha adolescência.
Esse trauma materializava-se num camilo pintado na parede do polivalente do liceu, a assombrar todos os jovens que lá entravam. E eu, note-se, gostava de ler. O que aquela figura fazia aos reguilas lá do burgo, só mesmo as psiquiatras para aferirem tantos anos depois. A mim, doía-me a alma ver aquela pintura tão dada, imberbe e horrível do alto dos seus três ou quatro metros. Doía-me ver Camilo tão mal retratado, na mesma proporção com que foi abraçado pelos meninos e meninas de Educação Visual ou do curso secundário de Artes e que, agora, trabalham muito bem em seguradoras ou em bancos, dado o jeito evidente.
Mas o tempo cura tudo. Tanto que o Parque Escolar do Engenheiro das Beiras permitiu mandar abaixo o liceu inteiro. Desse trauma eu não me livro – era o meu liceu e agora é um conjunto de caixas inócuas. Mas pelo menos com ele foi aquele camilo, grande e minúsculo, permitindo o aparecimento na minha vida do Camilo maiúsculo.
Como editor tive o raro privilégio de o editar há poucos meses e de estar a colaborar com o Centro de Estudos Camilianos e a Câmara de Famalicão para o editar ainda mais. São livros de capa dura, com duas narrativas em cada volume, para que se fixe em casa de quem ainda o não tem. Como leitor tenho a sorte de ver a Imprensa Nacional a fazer o que deve: editá-lo bem mas em capa mole. Livros sem mácula, de tão brancos. Livros bem feitos, de tão bem pensados nos materiais. Livros que completam o que tenho feito com a autarquia famalicense. Quererão maior exemplo de serviço público do que a complementaridade que pessoalmente sinto? A ela voltarei em breve, àquela que junta várias entidades como Castelo Branco juntou. Não esse, mas o que interessa.
Título: A Sereia de Camilo Castelo Branco
Quarto volume das obras de Camilo Castelo Branco
Edição de Ângela Correia e Patrícia Franco
256 páginas com capa e design de Undo, impressas nas oficinas da Imprensa Nacional em Coral Book Ivory de 90 gramas durante o mês de outubro de 2015.