Portugal tem tantas definições como poetas. E a poesia, em Portugal, recomenda-se. Desde O’Neill, aquele «problema que tenho comigo mesmo», a Sousa Braga que se sente com oitocentos anos mesmo que com vinte e dois na altura em que o escreveu. São tantos os que cantam Portugal e percebe-se porquê: somos os mais grandes do mundo.
Temos esta coisa estranha de sermos enormes mas de uma modéstia exasperante. Talvez seja pelos pés de barro — um retângulo tão pequeno não se deveria ter tornado tão mais maior. E nós crescemos mesmo muito. O Império físico pode ter desaparecido, mas ficou-se aquele que o continua — o da língua.
(Não falarei do acordo ortográfico — questão que também tenho comigo mesmo.)
O livro que a Imprensa Nacional deu à estampa há poucas semanas é um documento valiosíssimo desta maioridade. Somos a língua mais falada do hemisfério sul — mas como aprendemos com a Mafalda do Quino, a coisa está de pernas para o ar e o que interessa é o do norte. No entanto, mesmo aí, somos enormes. Porque nos espalhamos e miscigenamos tanto por este mundo que não há um pequeno burgo nesta Terra onde não se diga «obrigado». Ao ponto, como se sabe, de até no Japão o dizerem a partir do nosso.
É um livro valioso porque imodesto. Talvez seja altura de deixarmos de querer parecer pequenos e nos tornarmos arrogantes. Se todos os chineses saltarem ao mesmo tempo, o mundo estremece. Mas se todos os falantes de português se calarem, o mundo emudece. E eu não conheço maior estremecimento do que o silêncio.
Em boa hora apoiado pelo Instituto Camões, com um extenso prefácio do Ministro dos Negócios Estrangeiros, que patrocina a obra, uma edição para lá do Atlas de Marrocos: a edição do Atlas onde a serra que interessa é a da Estrela — a nossa.
Novo Atlas da Língua Portuguesa
Luís Antero Beto, Fernando Luís Machado, José Paulo Esperança
Edição bilingue, português/inglês de outubro de 2016
publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda