Médico, colaborador em vários jornais, deputado, vereador republicano e Ministro dos Negócios Estrangeiros, Francisco Teixeira de Queiroz nasceu em Arcos de Valdevez a 3 de maio de 1848 e faleceu em Sintra a 22 de julho de 1919. Concluiu o curso de Medicina, em Coimbra, em 1880, estreando-se nas letras um pouco antes, em 1876, com o conto «O Tio Agrela», vindo a lume no Diário Ilustrado. Teixeira de Queiroz foi ainda presidente da Academia das Ciências de Lisboa e mestre do conto e do romance, dividindo a sua produção romanesca em duas séries: Comédia do Campo, 1876-1915, e Comédia Burguesa, 1876-1919, duas séries que fixaram a experiência portuguesa do final do século XIX e início do século XX.
Na primeira, encontram-se títulos como Cenas do Minho (1876), Amor Divino (Estudo Patológico duma Santa) (1877), António Fogueira (1882), Novos Contos (1887), Amores, Amores… (Psicose do Amor) (1897), A Nossa Gente (1899), A Cantadeira (1913) e Ao Sol e à Chuva (1916). A segunda inclui Os Noivos (1879), O Salústio Nogueira: Estudo de Política Contemporânea (1883), D. Agostinho (1894), Morte de D. Agostinho (1895), O Famoso Galrão (1898), A Caridade em Lisboa (1901), Cartas de Amor (1906) e A Grande Quimera (1919).
Escritor, Teixeira de Queiroz cultivou o realismo naturalista na linha de Balzac e em obras como A Nossa Gente, onde evoca a sua terra natal, deixou-nos páginas de relevante impressionismo. Na História da Literatura Portuguesa, António José Saraiva e Óscar Lopes comparam o seu talento ao de Eça de Queirós.
A vasta e valiosíssima obra, que o escritor começou inicialmente por assinar como Bento Moreno, começa agora a ser disponibilizada pela Imprensa Nacional, numa parceria com o Município de Arcos de Valdevez. A nova coleção inicia-se com a série Comédia do Campo, em 2 tomos.
A Comédia do Campo é um conjunto de narrativas que realizam o projeto de romance crítico de Teixeira de Queiroz. Há páginas dedicadas à vida quotidiana, há histórias de amores felizes e infelizes, e há estudos sobre práticas religiosas extremas. Algumas das páginas mais eloquentes da literatura portuguesa sobre animais encontram-se em contos como «O Enterro de Um Cão» e «Batalha da Vida».
Discerne-se também o gosto do escritor pelos muitos rostos da velha sabedoria europeia, nomeadamente na denúncia do dinheiro e suas ilusões, na verificação da fragilidade do poder político, na reflexão sobre o modo de enfrentar as adversidades da vida e na procura do discernimento sábio. A experiência de situações extremas não é esquecida, como a doença, a loucura e a morte; a dedicação apaixonada à música; os ódios humanos e a externalização desses ódios sob a forma de demónios; o azar e as calamidades naturais; a vida aventurosa na estrada; o despojamento total e as duras
exigências da solidão. A prosa culta do autor irmana todos estes temas, contextualizando-os em algumas das mais belas representações das paisagens do território português.
Manuel Curado, Ana Lúcia Curado e Patrícia Gomes Leal coordenam a «Obra Completa de Francisco Teixeira de Queiroz».
Manuel Curado é professor de Filosofia na Universidade do Minho, nomeadamente nas áreas de Filosofia Antiga e Filosofia em Portugal. É ainda Auditor de Defesa Nacional e realizou o Curso de Alta Direção para a Administração Pública. É doutor sobresaliente cum laude pela Universidade de Salamanca, tendo obtido anteriormente o grau de mestre em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. Proferiu conferências em muitos países, da Rússia ao Brasil, e foi professor Erasmus em Itália.
Ana Lúcia Curado é professora de Estudos Clássicos na Universidade do Minho. Formou‑se e doutorou-se na Universidade de Coimbra. Dedica-se aos estudos de oratória antiga, do feminino na Antiguidade, de teatro clássico e da receção dos autores e temas clássicos na literatura portuguesa. É também tradutora de textos clássicos.
Patrícia Gomes Leal formou-se em Línguas e Literaturas Europeias e é mestre em Teoria da Literatura e Literaturas Lusófonas pela Universidade do Minho. É doutoranda em Estudos Globais, na Universidade Aberta, investigando a obra de Teixeira de Queiroz. É bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.