Obra Poética (1957-1994), de Salette Tavares, é apresentado no próximo dia 29 de setembro, pelas 18 horas, na Biblioteca da Imprensa Nacional, em Lisboa.
Apresentam este título as professoras Catherine Dumas e Rosa Maria Martelo. A sessão comtempla a leitura de poemas por Salette Brandão e Jorge dos Reis.
Salette Tavares (1922-1994) é uma das autoras mais cultas e cosmopolitas da sua geração. É também «portadora de um robusto e originalíssimo pensamento estético e de um passado de agitadora cultural que transcende as barreiras das especialidades e dos géneros artísticos», como o afirmou Luciana Stegagno Picchio. Além de poeta, Salette Tavares foi artista plástica, crítica, tradutora, professora, ensaísta, curadora, conferencista e encenadora. Destacou-se sobretudo pela versatilidade da produção escrita e visual: «Fabricar é o mais religioso serviço do homem», chegou a afirmar.
Em 1992, ainda em vida da escritora, a INCM publicou Obra Poética (1957-1971), uma obra galardoada, logo nesse ano, com o Prémio de Poesia do Pen Clube Português. Trinta anos depois, a editora pública volta a publicar a obra poética de Salette Tavares, reunindo nesta nova edição o texto integral de 1992, com acréscimos, modificações, vários inéditos e incluindo ainda uma secção de poesia visual (a cores).
A presente edição conta ainda com prefácio de Catherine Dumas, professora emérita de língua e literatura portuguesas na universidade da Sorbonne Nouvelle, Paris 3. Nele, pode ler-se:
Este livro impulsa o acréscimo de visibilidade de Salette Tavares com a reunião quase exaustiva (nunca se sabe onde se esconderão mais alguns poemas…) da sua poesia. Ainda há livros de prosa por descobrir no seu espólio. A esfera da obra continua suspensa, convocando, algures no espaço intersideral, novas descobertas.
Nesta edição o leitor tem à disposição:
* A reprodução do livro de 1992, incluindo acréscimo e modificação de algumas datas conferidas nos manuscritos do espólio, assim como complementos a umas das notas de rodapé iniciais da autora;
* O conjunto dos inéditos religados aos livros já publicados e afastados do volume de 1992;
* O esboço de um livro inédito intitulado O Livro do Corpo, que se acha claramente identificado no espólio;
* Os poemas esparsos em suportes diversificados;
* Os poemas inéditos do espólio, muitos deles datados. Formam um conjunto importante que ficou classificado cronologicamente, de 1949 a 1987;
* A secção da poesia visual, a cargo de Salette Brandão, e que ultrapassa em quantidade e qualidade as reproduções da «Pequena Antologia» intitulada, em 1963, «Brincadeiras Brincadeiras»;
* Os paratextos, com o prefácio que Luciana Stegagno Picchio assinou em 1990 e que não podia faltar, pois ele ressalta toda a dimensão da obra no contexto da poesia portuguesa e do pensamento ocidental da época; e com o prefácio que Gillo Dorfles escreveu para a edição italiana de Lex Icon.
Salette Tavares nasceu em Moçambique em 1922. Formou-se em Ciências Histórico‑Filosóficas na Universidade de Lisboa. Posteriormente, especializou-se em estética e teoria da arte. Teve um papel constante no ensino e na salvaguarda do património, assim como na reabilitação urbana, como membro e presidente da secção portuguesa da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte). Começou por se destacar na década de 1960, no contexto da Poesia Experimental. Enformada por uma continuada reflexão teórica, a sua obra cruza a produção literária e a prática artística, através de uma exploração tridimensional à qual deu o nome de «Poesia espacial». «A terra é uma esfera suspensa», este verso de Lex Icon exprime bem o conceito do experimentalismo ao qual a poeta se dedica. Toda a estética de Salette Tavares é condicionada pelo inacabado do sentido. A sua obra configura uma cosmogonia poética do por acontecer, por descobrir, do eco sonoro e semântico que nunca acaba, duma surrealidade intrínseca. Morreu em Lisboa em 1994.
Obra Poética (1957-1994), de Salette Tavares, encontra-se publicado na coleção «Plural», da Imprensa Nacional. Já disponível nas livrarias.