A apresentação desta obra fica a cargo de Henrique Leitão numa cerimónia que, para além da autora, Joana Lima, do Presidente da EMCFM, José Marques, do Diretor de Edições e Cultura da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Duarte Azinheira, e do presidente da Academia de Marinha, Almirante Vidal Abreu, do Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante Henrique Gouveia e Melo, contará com a presença do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que encerrará a sessão.
Antonio Pigafetta, oriundo de uma família nobre de Vicenza (Itália), embarcou na frota de cinco navios liderada por Fernão de Magalhães que partiu de Sanlúcar de Barrameda à procura de uma rota para as Molucas por Ocidente. Foi um dos dezoito sobreviventes desta célebre viagem realizada pela nau Vitória entre 1519 e 1522. Após o seu regresso, o italiano dedicou-se à reconstituição da viagem, numa narrativa que se tornaria o mais famoso documento histórico sobre a Circum-Navegação.
Relação da Primeira Viagem em Torno do Mundo, uma edição da Imprensa Nacional para a Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães | 2019-2022 (EMCFM), traduz bem o deslumbramento de Pigafetta com o «mundo novo» com o qual contactou, ao descrever os povos, costumes e idiomas bem como novas espécies animais e vegetais, que o maravilharam.
Com introdução, edição, tradução e notas de Joana Lima, investigadora do Projeto RUTTER, esta será, tanto quanto se sabe, a primeira tradução portuguesa feita a partir do texto crítico estabelecido pelo historiador italiano Andrea Canova, em 1999, resultado de um cuidado trabalho filológico e de comparação de todos os testemunhos originais. Trata-se, por isso, de uma tradução feita a partir daquela que corresponde à versão mais próxima do original de Pigafetta.
Nas palavras de Henrique Leitão, que prefacia esta edição, «A Relazione é um testemunho excecional do impacto que as novidades do ‘mundo novo’ causaram num europeu inteligente e curioso, educado na tradição cultural do velho continente (…), o relato de Pigafetta foi certamente o principal responsável pela criação de um grande herói, Fernão de Magalhães. O poder da prosa de Pigafetta pode avaliar-se pelo facto de ter conseguido com que os feitos e a fama de Magalhães sobrevivessem à evidente animosidade com que, quer castelhanos quer portugueses, tratavam a sua memória.».
Integrada no Programa Oficial das Comemorações, esta obra constitui um contributo importante para o enriquecimento do acervo bibliográfico associado à expedição planeada e liderada por Fernão de Magalhães a qual, concluída por Juan Sebastián Elcano, se tornaria na primeira viagem de Circum-Navegação.
Os povos desta terra não são cristãos e não adoram coisa alguma; vivem segundo os usos da natureza e vivem cento e vinte e cinco e cento e quarenta anos. Andam desnudos, tanto homens quanto mulheres. Habitam em certas casas compridas às quais chamam boii, e dormem no interior das casas em redes de algodão chamadas amache, que são atadas pelas extremidades a estacas grossas; fazem fogo no chão destas casas. Em cada um destes boii, vivem cem homens com as suas mulheres e filhos, fazendo muito barulho. Têm barcos feitos de um só tronco maciço, chamados canoè, escavado com machados de pedra (estes povos adotaram a pedra como nós adotámos o ferro, por este aí não existir); vão entre trinta e quarenta homens num destes. Vogam com pás como as de um forno, e, assim, tão negros, desnudos e rapados, quando vogam assemelham-se aos do paul do Estige.
Antonio Pigafetta, in Relação da Primeira Viagem em Torno do Mundo