Inauguração da sede do sindicato dos operários da Imprensa Nacional.

  • Referência
    «Imprensa Nacional», Diário da Manhã, n.º 554, de 17 de outubro de 1932, p. 7
Assunto

Inauguração da sede do sindicato dos operários da Imprensa Nacional.

Ficha

«A numerosa classe da Imprensa Nacional é um composto de valorosos profissionais autênticos, a que poderá chamar-se, sem favor, um corpo operário da ‘elite’. São variados os ramos que constituem a laboriosa classe, e, em cada um deles, contam-se verdadeiros especialistas, dada a superior organização daquele estabelecimento que transforma os seus aprendizes em competentes oficiais e estes em mestres proficientes. De lá saíram alguns jornalistas, antigos tipógrafos, que trocaram o ‘componedor’ pela pena com que, honradamente, têm ilustrado as colunas da Imprensa portuguesa e estrangeira.
Este pessoal, desde 1915, unido sindicalmente por vontade de um núcleo de operários, no número dos quais se contava o nosso prezado colega de Imprensa Norberto de Araújo, então tipógrafo daquela casa, inaugurou, ontem, uma sede própria para o seu sindicato, confortável estância de recreio espiritual onde os sócios encontram, a par de um relativo conforto, muito boa ordem e uma biblioteca apreciável, patente a todos os que ali desejam empregar as suas horas de ócio.
O facto foi comemorado com uma sessão solene, tendo a assistência de quase todos os associados e de numerosos delegados das outras organizações operárias.
A sessão iniciou-se às 15 horas, sob a presidência do Sr. Júlio Luís, da classe metalúrgica e delegado dos Arsenalistas do Exército, secretariado pelo delegado operário da Construção Civil, Sr. António Miranda, e representante da Associação do Ensino Liberal, Sr. José Morais Cabral, em cuja sede o sindicato do Pessoal da Imprensa Nacional de Lisboa se alojou durante o período de 1915 até à data.
O Sr. Júlio Luís, ao abrir a sessão, disse que, desde há muito, a sua e a classe [sic] que ora inaugurava a sua sede, se unem num abraço de fraternal comunhão de ideias e doutrinas e que, por isso, o pessoal arsenalista muito se congratula por ver os progressos da sua congénere operária. Para iniciar a sessão solene convidou a descerrar-se uma lápide comemorativa da inauguração, o que se fez entre aplausos calorosos.
A lápide diz o seguinte: Aos 16 de outubro de 1932, foi inaugurada solenemente nesta casa a nova sede do Sindicato do Pessoal da Imprensa Nacional de Lisboa, fundada em 5 de dezembro de 1915.
Em seguida à leitura do expediente, que se fez depois e que constou de saudações de várias entidades, credenciais dos delegados e de uma carta do professor sr. Emílio Costa, pedindo desculpa de não comparecer e saudando a classe, usou da palavra, em nome do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, o nosso colega sr. Norberto de Araújo, presidente da ‘Casa da Imprensa’.
Disse, depois de saudar a classe a que pertenceu, com muita honra, segundo afirmou, como operário gráfico, que foi, durante dois anos, presidente daquele Sindicato, então seu, e que a sua fundação se deve ao esforço de um grupo de camaradas de então, cheios de boa vontade e dos quais uns já envelhecidos e outros desaparecidos da atividade. Em seguida fez a história da organização da classe da Imprensa Nacional e disse que, como presidente da ‘Casa dos Jornalistas’, cujo título se parece com o daquele Sindicato, registava com prazer a realização daquela obra, tanto mais para louvar quanto é certo que ela foi feita através de dificuldades de toda a espécie.
Disse tornar-se urgente fazer-se uma união estreita entre as classes proletárias e intelectuais, verificando-se, com satisfação, pelas numerosas delegacias dos outros centros operários naquela festa, que o operariado vai criando uma consciência de fraternidade muito para louvar e a todos os títulos necessária.
Em seguida falaram os delegados dos Sindicatos da Construção Civil, Correios e Telégrafos, pessoal menor, alfaiates, da C. P.; Dr. Pedro Martins, pela Cantina Escolar de S. Mamede, que prestou homenagem ao operário e secretário geral do Sindicato, Sr. Manuel Canhão, a cuja tenacidade e espírito trabalhador atribuiu a inauguração da nova sede; delegado da Associação do Ensino Liberal e outros e, por fim, o delegado da Central Operária Portuguesa que, em nome dos operários de todo o País, saudou o pessoal da Imprensa Nacional.
Depois de mais algumas palavras, congratulatórias e de saudação, proferidas pelo Sr. Presidente, foi encerrada a sessão entre aplausos da numerosa assistência.
À noite, o jornalista Sr. Jaime Brasi [sic] fez a sua anunciada conferência sobre ‘A Mulher na Civilização’, tendo-se sido dirigidas no final palavras de agradecimento, pelo Sr. Manuel Canhão, em nome do sindicato.»