Pedro Tamen nasceu em Lisboa em 1934 e estudou Direito na Universidade de Lisboa.
Entre 1958 e 1975 foi diretor da Editora Moraes e depois, até 2000, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi também dirigente cineclubista, professor, diretor‑adjunto de uma revista, crítico literário num semanário, e tradutor literário. Pedro Tamen traduziu, ente outros, Imitação de Cristo, dos Fioretti de S. Francisco, Cantos de Maldoror, de Breton, e autores como Sartre, Foucault, Camilo José Cela, Georges Bataille, Georges Pérec, Flaubert e Gabriel García Márquez.
A sua obra poética, iniciada em 1956 com Poema para Todos os Dias, foi, em 2018, completamente reunida na edição de Retábulo das Matérias, da Imprensa Nacional. Os seus poemas estão traduzidos e publicados em catorze línguas.
Recorde-se ainda que Pedro Tamen foi distinguido com o Prémio D. Diniz/Casa de Mateus, em 1981, o Grande Prémio de Tradução Literária, em 1990, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1991, o Prémio Bordallo, da Casa da Imprensa, em 2000, e no ano seguinte, o Prémio P.E.N. de Poesia, em 2001.
Pedro Tamen recebeu ainda o Prémio Luís Nava, em 2006, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 2010, e o Prémio Literário Casino da Póvoa, no ano seguinte. Em 1993, o Governo português condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Vou a Praga à boleia, meu amor,
furto fortuito de mercês pensadas
e cingidas a peito noutros anos
— agora encaixilhadas a bolor
de tanto serem tidas e molhadas
de olhos cativos e samaritanos.
Atrás de nós ficámos na viagem
longa de mais, de menos, repetida
conjura contra um espaço e o seu dolo,
e mais se desbotou a nossa imagem
na foto de turista e minha ferida
que levarei agora a tiracolo.
E arrasto na cidade o tricolor
pelo da barba, e molho a tinta pura
a novidade alada que quis dar.
Mas sei demais, mulher, e onde for
tu lá estarás fatal fada madura,
maçã de vento e só neste pomar
que somos nós por mais que não queiramos.
E assim está o teu corpo sobre o verão
como seu sol veraz e seu destino
onde afinal deitados nos queimamos.
E a busca acompanhada desta mão
traz-nos o ar correto e já salino
do mar que atravessado foi deveras.
Por isso não vou só se quiser ir,
nem tu já poderias, poderás.
Partir é isto mesmo das esperas
e embalar nos ouvidos a zumbir
o som pronunciado de outra paz.
Vamos a Praga os dois a pé-coxinho.
Eu brinco no teu peito, tu nos dedos
de mim calhados com que te encadeio.
Temos nozes e pão, agudo vinho,
bocas de carne, matas sem enredos,
o tempo todo à frente, e o do meio.
in Pedro Tamen, Retábulo das Matérias, Lisboa, Imprensa Nacional, 2018, pp. 405 e 406