12h00, 8 de outubro de 1998. Foi há 22 anos que se conheceu o laureado com o prémio Nobel da Literatura de 1998 que «com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia». Foi assim que a Academia Sueca anunciou ao mundo o nome de José Saramago. Foi também a primeira vez que um escritor português e da Língua Portuguesa recebia o mais alto galardão literário.
Seguiu-se depois a festa e uma celebração que viria a «levantar um país de alegria», como viria a referir, mais tarde, o escritor Eduardo Prado Coelho. Lembrar a atribuição desta importante distinção a José Saramago é lembrar o escritor e a sua obra de génio, e é também homenagear a literatura em Língua Portuguesa. Nesta data importante, deixamos-lhe aqui uma sugestão de leitura:
A Teologia Ficcional de José Saramago: Aproximações entre o Romance e a Reflexão Teológica, de Marcio Cappelli.
Este é um ensaio, publicado em 2019, pela Imprensa Nacional em parceria com a Universidade Católica Portuguesa, que procura defender a possibilidade de uma teologia ficcional na literatura saramaguiana.
Pensando a literatura como expressão teológica autêntica, mesmo em formato não teórico, A Teologia Ficcional de José Saramago procura desvendar o universo de Saramago. Apesar de o ateísmo ser um fator determinante na sua escrita, percebe-se que o recurso à Bíblia, quer seja para a criticar ou homenagear, revela o que poderia ser apelidado de construção teológica desconstrutiva.
Capelli busca, ao longo de mais de 300 páginas, traçar a visão teológica de mundo do autor português e «(…) indo além, afirmando que, não somente há uma imagem de Deus que subjaz ao universo romanesco saramaguiano, ou uma crítica de Deus que precisa ser respondida, ou ainda uma dialética sacralização-dessacralização possibilitada pela dinâmica da secularização, mas, sem querer «converter» Saramago, se propõe a afirmar que na desconstrução realizada na reescritura dos episódios bíblicos, que leva certa consciência religiosa ao esgarçamento, é possível entrever uma teologia ficcional, que pode ser associada a alguns temas presentes na reflexão teológica.(…)».