Numa Europa esmagadoramente monárquica, à excepção da Confederação Suíça e da República Francesa, e num país demasiadamente desigual, no dia 5 de outubro de 1910 foi proclamada a República em Portugal. Seria José Relvas o homem da revolução e o escolhido para proclamar a República da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, e anunciar logo a seguir o Governo Provisório. Este foi o culminar de um longo e conturbado processo, iniciado ainda no século XIX, que conseguiu destituir a monarquia portuguesa, velha de oito séculos, e inaugurar um novo regime, o republicano. Foi há 110 anos. Para assinalar esta data – tão decisiva para a história do País – ficam aqui algumas sugestões de leituras para o fim de semana prolongado que se aproxima.
OS SONS DA REPÚBLICA
Com a disponibilização de Os Sons da República, Rui Vieira Nery apresenta um estudo diacrónico do panorama musical português da era republicana, devidamente correlacionado com os paradigmas vigentes antes e depois desse período histórico, contribuindo para o enriquecimento da História da Música ocidental, e de uma forma síncrona para o conhecimento do contexto cultural e social da sociedade portuguesa da época. Sustentada por uma perspetiva interdisciplinar e integrante, a obra desfila sobre registos aparentemente tão antagónicos como a orquestra sinfónica e a banda filarmónica, a Ópera e a Revista, o Fado e a Canção de Câmara, apresentados por uma visão crítica que os integra e concilia, bem como revisita alguns dos mais relevantes protagonistas da época.
Com excelentes apontamentos iconográficos e um CD inspirador a obra teoriza primeiramente sobre «A Herança Musical da Monarquia Constitucional», «O Ensino Vocacional da Música», «As Orquestras dos Cidadãos», «O Dinamismo Musical da Sociedade Civil», «O São Carlos e a Representação Social das Elites», «À Procura de uma Identidade Musical Portuguesa», «Do Salão Burguês ao Espetáculo Público» e «A Explosão da Música Popular Urbana» e posteriormente sobre nomes tão sonantes como Alfredo Keil, Alexandre Rey Colaço, José Viana da Mota, Francisco de Lacerda, Óscar da Silva, Luís de Freitas Branco, António Fragoso e Fernando Lopes-Graça.
EDUCAR – EDUCAÇÃO PARA TODOS. ENSINO NA I REPÚBLICA
Para os republicanos, a aposta na educação do povo constituiu um dos grandes vetores do seu ideário. Entre os grandes desígnios da escola republicana, contavam-se a educação laica, a educação para a cidadania, o combate ao analfabetismo, a democratização da escola e a adoção de novas metodologias em todos os níveis de ensino. A aposta na educação como meio de formar cidadãos livres e conscientes, capazes de intervir civicamente, foi muito precoce na propaganda republicana. Assim, ainda antes da República, essa ação educativa foi desenvolvida pelos centros escolares republicanos, pelas universidades livres, pela Escola-Oficina n.º 1 e por uma série de associações promotoras da educação. O catálogo e a exposição Educar. Educação para todos. O ensino na I República pretendem dar a conhecer a obra republicana no ensino. Ao longo das onze salas que compõem o percurso, a exposição pretende atingir um leque diversificado de público, desde o público escolar ao público em geral. O catálogo retém grande parte da riqueza icónica da exposição e acrescenta sete ensaios sobre os temas centrais da exposição, escritos por peritos na História da Educação e da Pedagogia, que abordam a democratização do ensino na I República, os ensinos primário, técnico, liceal e universitário vistos numa perspetiva histórica e com o foco nos primeiros tempos republicanos, os manuais escolares e o professor primário na I República. A fechar o catálogo, uma cronologia comparada da época e ainda antes umas (interessantíssimas) páginas de apontamentos ilustrados dedicados à organização e construção da exposição. A coordenação científica é de Maria Cândida Proença.
DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DA I REPÚBLICA E DO REPUBLICANISMO
Esta obra fornece informação variada sobre a temática da República e do republicanismo, tanto no plano das ideias e dos valores, como nas áreas institucional, económica, do ensino e do lazer. Contempla textos sobre acontecimentos, personalidades, instituições e aspetos da vida económica, social e cultural da época, destacando-se um vasto conjunto de biografias e um levantamento exaustivo de todos os presidentes do Ministério e ministros que exerceram funções entre 5 de outubro de 1910 e 28 de maio de 1926. A coordenação é de Maria Fernanda Rollo.
FADOS PARA A REPÚBLICA
Uma reflexão crítica aprofundada de Rui Vieira Nery, a partir das fontes poéticas originais, sobre a associação da lírica do Fado às grandes questões da esfera pública que marcaram, no período entre a Geração de 70 e o 28 de Maio, a existência quotidiana das comunidades populares em cujo seio o género se produzia, das condições materiais da sua subsistência à natureza do regime político vigente ou à vivência brutal da ida à guerra.
Nas três secções da obra – «O Fado e o Ideal Republicano», «O Fado e o Movimento Operário» e «O Fado e a Grande Guerra» – são reunidas, contextualizadas e analisadas algumas dezenas de letras que permitem resgatar a memória de uma tradição de intervenção política do Fado mais tarde sufocada pela censura do Estado Novo.
O ESSENCIAL SOBRE A I REPÚBLICA E A CONSTITUIÇÃO DE 1911
Um século após a sua implantação, a I República continua envolta na bruma do preconceito e do desconhecimento.
A II República, em que vivemos (após o interregno autocrático do Estado Novo), procurando recuperar valores e evitar erros da Primeira, deve meditar esse tempo de grandes esperanças, mas também de dissolvente desentendimento entre os partidos, que haveria de levar à ditadura. A Constituição de 1911, nossa primeira lei fundamental republicana, acabaria por instituir um parlamentarismo que a atual, atenta aos factos, aperfeiçoaria. Entre a lição da lei e a da realidade histórica, de Paulo Ferreira da Cunha, procura-se aqui uma perspetiva serena, mas não inócua, sobre esse tempo que foi e é a muitos títulos exemplar – e atualíssimo.
A I REPÚBLICA NA GÉNESE DA BANDA DESENHADA E NO OLHAR DO SÉCULO XXI
Este catálogo resulta da exposição realizada no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, entre 2 de junho e 5 de outubro de 2010, no âmbito da parceria estabelecida entre a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República e a Câmara Municipal da Amadora, e exibida pouco depois no Festival Nacional de Banda Desenhada da Amadora, que decorreu de 22 de outubro a 7 de novembro.
A BD foi, desde os seus primórdios, e é até hoje um importante instrumento de consciencialização social, funcionando como um espelho das sociedades, na sua vertente política e em quase todas as outras. Em Portugal, o Republicanismo foi um impulsionador decisivo da caricatura e do cartoonismo, numa era em que a sátira social muito aproveitou da nova liberdade expressiva. Da caricatura e do cartoon nascerá a Banda Desenhada, por um desenvolvimento expressivo da vinheta que encaminhará a caricatura e o cartoon para a narrativa gráfica.
O catálogo conta com textos de especialistas em História da BD, da animação e da capital portuguesa da BD, a Amadora, para além de valiosa e belíssima documentação gráfica.
MANUEL DE ARRIAGA (1840-1917). AO SERVIÇO DA REPÚBLICA
O presente livro centra-se na vida e obra de Manuel de Arriaga, primeiro Presidente da República Portuguesa. Oriundo de uma família aristocrata faialense, formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, onde se revelou um aluno brilhante e um orador notável. Membro da geração de 70, adere aos ideais republicanos e intervém desde muito cedo na vida política e cultural do país, estando na origem da criação dos seus primeiros centros, em 1882.
Nesse mesmo ano, foi eleito deputado pelo círculo do Funchal e em 1890 pelo círculo de Lisboa distinguindo-se no parlamento pela pertinência das suas intervenções e decisões. Foi um dos autores do programa do Partido Republicano Português (PRP) que tinha por objeto servir de base à unificação de todos os centros republicanos. Após a implantação da República foi nomeado para o cargo de reitor da Universidade de Coimbra (18 de outubro) e pouco tempo depois para o de Procurador-Geral da República (31 de outubro).
Eleito Presidente da República Portuguesa em 2 de agosto de 1911, exerceu o mandato num período conturbado da vida nacional e internacional. Renunciou ao mesmo em 26 de maio de 1915, abandonando definitivamente a vida política. Faleceu em Lisboa a 5 de março de 1917 e está sepultado no Panteão Nacional desde 2003.
O DRAMA DE CANTO E CASTRO – UM MONÁRQUICO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
A edição original de O Drama de Canto e Castro – Um Monárquico Presidente da República foi publicada em 1944 por Maurício de Oliveira.
O almirante João do Canto e Castro descreveu a sua passagem pelo palácio de Belém, como «um período de amargura, de angústia e de sofrimento»: «não faz ideia do que eu passei», queixou-se a Maurício de Oliveira.
Passados 75 anos, o Museu da Presidência da República, em parceria com a Imprensa Nacional, reedita a obra pela sua importância para a biografia de João do Canto e Castro Silva Antunes, presidente da República Portuguesa entre dezembro de 1918 e outubro de 1919.
VIVA A REPÚBLICA! 1910-2010
Nesta obra, dedicada aos acontecimentos fundamentais do período da I República e do Republicanismo, podemos acompanhar o triunfo da ideia republicana, a instauração e consolidação do regime, os primeiros sucessos e desilusões provocados pela nova governação, a entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra e os esforços infrutíferos para inverter o caminho de declínio que derivou do desgaste humano e material provocado pelo conflito armado em África e na Flandres. Conta com os contributos de diversos académicos e investigadores na temática e reúne um impressionante conjunto de fotografia da época.
Viva a República! 1910-2010, é o segundo dos catálogos concebidos para acompanhar as exposições organizadas pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, que se sucedem ao longo deste ano de 2010.
O TEATRO DE REVISTA E A I REPÚBLICA – ERNESTO RODRIGUES E A PARCERIA (1912‑1926)
O Teatro de Revista atravessa a I República com assinalável pujança e marca significativamente a vivência social, política e cultural do nosso país nos anos agitados que vão do derrube da monarquia até ao golpe militar que instaura a ditadura, em 1926.
Esta obra, da autoria de Pedro Caldeira Rodrigues, jornalista e mestre em História, oferece-nos uma incursão pioneira no mundo do teatro de revista da I República, em especial através do estudo do papel fulcral desempenhado por A Parceria, liderada por Ernesto Rodrigues e que integrava também Félix Bermudes e João Bastos. Desfilam assim perante nós os principais acontecimentos da época, as recordações e as memórias de quantos atravessaram esse meio teatral e, também, o quotidiano da cidade de Lisboa e da sua população.