No podcast «A Poesia Dita.» está agora em escuta o poema «Se me comovesse o amor», de autoria de Francisco José Viegas. «Se me comovesse o amor» é um poema inserido no livro Deixar um Verso a Meio publicado em julho de 2019 na coleção «Plural», uma coleção da Imprensa Nacional dedicada à poesia em língua portuguesa.
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SE ME COMOVESSE O AMOR
Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia
caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer
o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.
Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.
Francisco José Viegas nasceu em 1962. Professor, jornalista e editor, foi também diretor da revista Grande Reportagem e da Casa Fernando Pessoa. De junho de 2011 a outubro de 2012 exerceu o cargo de Secretário de Estado da Cultura. Colaborou em vários jornais, revistas e programas na rádio e televisão. É atualmente editor da Quetzal, diretor da revista Ler, e mantém, desde 2008, uma coluna diária no Correio da Manhã.