Em tempos de incerteza convocámos (virtualmente) os nossos poetas e lançámos o desafio: dizer, pela própria voz, a sua própria poesia. Hoje Daniel Maia-Pinto Rodrigues volta ao Prelo para dizer os seus poemas: «A História do Pastor» e «Habituei-me a reconhecer».
A História do Pastor
A seguir a história do pastor.
O pastor vivia em Goinge, floresta normanda.
Era filho dos senhores da Escânia
hoje conhecedores de ciências.
Aos vinte anos sabia já
distinguir as ervas
curava com esmero os golpes do gado.
Entretinha-se com o queixo.
E todos os arroios
o conheciam de sol a sol.
Aos vinte e seis anos
casou com Dourada, a rapariga débil.
Aos trinta
viu realizar-se um sonho antigo:
receber os primos no pátio.
Abriu então cervejas
fritou amêndoas
falou pela primeira vez de nostalgia.
Habituei-me a reconhecer
Habituei-me a reconhecer os dias quentes
pela sonolência dos cães.
Há rios de médio porte
nas zonas baixas das encostas.
Há igrejas de terras pequenas
com primos no adro.
Neste domingo ponho a hipótese
de ir ao rio mais próximo.
Neste domingo ponho a hipótese
de não ir à igreja mais longe.
Considero que já disse
o pouco que queria dizer;
rios que não refrescam,
missas que aumentam o calor.
Daniel Maia-Pinto Rodrigues nasceu no Porto em julho de 1960. Turquesa é o seu vigésimo livro.
Turquesa é também a mais recente novidade da coleção «Plural», uma coleção dedicada à poesia em língua portuguesa. Turquesa de Daniel Maia-Pinto Rodrigues reúne poemas dos livros Vento (1983), Conhecedor de Ventos (1987), A Próxima Cor (1993), O Valete do Sétimo Naipe (1994), A Sorte Favorece os Rapazes (2001), O Afastamento Está Ali Sentado (2002), Malva 62 (2005), Dióspiro (2007), A Casa da Meia Distância (2010) e Já Passei Por Aqui (2015).
Turquesa teve direção literária de Jorge Reis-Sá, capa e design de André Letria. A revisão de texto é de Mário Azevedo. A paginação, impressão e acabamentos da responsabilidade da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
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