A obra editorial da Impressão Régia acompanhou o plano cultural do reinado de D. José, nomeadamente, através da tradução e publicação de obras estrangeiras e da edição de libretos de ópera, que refletiam diretamente a cosmovisão da época.
«(…) no tempo de D. José a ópera teve um incremento extraordinário, a nível oficial e a nível popular. Cantores italianos e músicos de grande nomeada invadem Lisboa, atraindo aos diversos teatros um público heterogéneo, em que o povo, a burguesia, e aristocracia, a Corte, a família real e o próprio clero se acotovelavam e irmanavam, nos aplausos e nos apupos. Todavia, é na Corte que se assistirá a uma mais radical evolução do gosto artístico, coma chegada, em 1752, do napolitano David Perez, menos de dois anos depois da aclamação de D. José.
Nomeado mestre da Capela Real, David Perez empreende uma reforma na organização musical que influenciará particularmente uma reforma na organização musical que influenciará particularmente a ópera. Sob a sua orientação formam-se pelo menos dois músicos de grande mérito: António da Silva e José Joaquim dos Santos. Como professor de Canto, o seu aluno mais representativo foi, sem dúvida, a famosa Luísa de Aguiar Todi, que se estreou no género sério numa das suas óperas, Il Demofoonte. Também sob o impulso de David Perez, a Orquestra Real de Câmara se alargou e enriqueceu, tornando-se uma das maiores e mais reputadas orquestras europeias (…).»
Manuel Ivo Cruz, O Essencial sobre a Ópera em Portugal,
coleção «Essencial», n.º 99, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008.
Na segunda metade do século XVIII, em Lisboa e no Porto, a ópera (quer palaciana, quer popular) tornou-se o género musical mais importante e influente, com representações frequentes que alternavam com o teatro declamado e o bailado.
Em Lisboa, após o Terramoto, as récitas passaram a realizar-se sobretudo no Teatro do Bairro Alto, no Teatro da Rua dos Condes, no Teatro da Ajuda e na Casa da Ópera do Palácio de Queluz. A frequência diminuiu significativamente mas, ainda assim, entre os anos de 1769 a 1777, saíram do prelo da oficina tipográfica da Impressão Régia cerca de 40 libretos de ópera.
Entre os exemplares mais antigos que constam do acervo da Biblioteca da Imprensa Nacional contam-se:
Il Viaggiatore Ridicolo, drama
Autor — Carlo Godoni, Advogado
Música — Giuseppe Scolari, Maestro
Encenação — Simone Gaetano Nunes
Guarda-roupa — Antonio Francesco
Dedicatória — D. Henrique José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras
Apresentação — Teatro do Bairro Alto em Lisboa
Ano — 1770
Isacco Figura del Redentore, oratória
Música — Giuseppe Giovacchino, Mestre no Real Seminário de Lisboa
Apresentação — Casa de Luigi Giuseppe Pientzenauer
Ano — 1771
L’ Anello Incantato, drama
Autor — Giovanni Bertati
Música — Ferdinando Bertoni, Mestre
Encenação — Simone Gaetano Nunes
Guarda-roupa — Domenico de Almeida
Apresentação — Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa
Ano — 1772
Antígono, drama
Autor — Pietro Metastasio, Poeta
Música — Francesco di Majo, Mestre de Capela
Encenação — Simone Gaetano Nunes
Guarda-roupa — Domenico de Almeida
Apresentação — Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa
Ano — outono de 1772
Issea, serenata pastoral
Música — Gaetano Pugnani
Apresentação — na Real Vila de Queluz
Ano — dia de S. Pedro de 1772
La Finta Ammalata, farsa
Poesia — António Palomba Napolitano
Música — diversos mestres de capela
Apresentação — na Real Vila de Queluz
Ano — 1773
La Giardiniera Brillante, intermezo a 4 vozes
Música — Giuseppe Sarti, Mestre de capela
Encenação e decoração — Simone Gaetano Nunes e Antonio Stoppani
Guarda-roupa — Domenico de Almeida
Apresentação — Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa
Ano — 1773
Libreto (do italiano libretto, pequeno livro; pl. libretti) é o texto integral de uma peça musical cantada, do género ópera, opereta, musical, oratória e cantata. Além das partes cantadas, o libreto pode incluir ainda, intercalado, o texto dos recitativos. O autor de um libreto é chamado libretista.
MJG / RAS