Um vaivém entre o campo e a cidade, que tem a ver com uma tensão territorial, geográfica, cultural, que coincide com uma tensão também existencial, e onde está presente o medo do desenraizamento e da perda da identidade. Há um desejo de partir e até de me despedir, de um mundo rural, de um mundo campestre, que foi o da minha infância e o dos meus antepassados. Constata-se a impossibilidade de regressar a esse mundo, ou porque se regressa às ruínas da infância e a um espaço marcado pelo desaparecimento dos antepassados; ou, num âmbito mais geral, pela impossibilidade de regressar ao que foi o mundo rural português tal como ele existiu durante séculos ou até milhares de anos e que desapareceu algumas décadas atrás.
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Há também hoje, embora de uma forma um pouco tímida, um certo impulso de regressar ao campo, porque se entende que isso proporciona um tempo mais lento, mais saudável, mais próximo da natureza e, nesse aspeto, mais verdadeiro. Muitos jovens são movidos por algum idealismo. Muitos deles também se desiludem com o que lá encontram. Mas é um fenómeno interessante.
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É a minha despedida. Quer porque esgotei já o meu olhar sobre esse mundo (…). E também porque há o reconhecimento de que o regresso é impossível. Sobretudo o regresso privado, a nível individual, porque esse mundo está hoje, para mim, povoado de perdas e de ausências. É um regresso utópico. Uma espécie de partida que se confunde com regresso. Como se a partida e o regresso fossem a mesma coisa, tivessem o mesmo rosto.