A Comédia Burguesa é o segundo volume, em dois tomos, da coleção «Obra Completa de Teixeira de Queiroz» e é também um vasto fresco da Lisboa finissecular.
Neste volume encontramos os textos: Os Noivos (1879), O Salústio Nogueira: Estudo de Política Contemporânea (1883), D. Agostinho (1894), Morte de D. Agostinho (1895), O Famoso Galrão (1898), A Caridade em Lisboa (1901), Cartas de Amor (1906) e A Grande Quimera (1919).
As alegrias e tristezas do casamento são desenhadas n’Os Noivos, obra que se tornou famosa pela descrição da vida nas casas de hóspedes, do emprego em escritórios e dos negócios das casas de penhores. A atração exercida pela capital e a luta pelo poder político são captadas n’O Salústio Nogueira, versão definitiva de um romance que chegou a ter como título O Senhor Ministro. O ocaso das famílias poderosas é pintado com elegância nos dois volumes dedicados a D. Agostinho, um aristocrata sem dinheiro. A crença no papel redentor da ciência moderna e da tecnologia manifesta-se no entusiasmo com que a sociedade da época recebe o empresário Galrão quando este regressa à pátria acompanhado do sábio alemão Egger, personagens que dão voz à esperança portuguesa em salvadores que venham de fora. Uma vénia à rica tradição portuguesa das misericórdias e outras formas de filantropia organizada é feita no romance duplo A Caridade em Lisboa. O mistério do amor e o choque entre gerações alimentam as páginas de Cartas de Amor, que, com três edições, foi o maior êxito de vendas do escritor. A culminar a série romanesca, A Grande Quimera oferece uma reflexão pioneira sobre os perigos do mau uso da ciência e da técnica. Os estudos da vida da Lisboa cosmopolita são enriquecidos com quadros de Sintra, do Minho e do Alentejo, não sendo esquecidas as terras americanas com que sonhava a Europa da época. Vários textos prefaciais expressam o pensamento estético e o ideário literário do romancista. in Contracapa
A Imprensa Nacional, em parceria com o Município de Arcos de Valdevez, torna assim possível, através da criação desta coleção, que a vasta e valiosíssima obra de Teixeira de Queiroz, escritor que começou inicialmente por assinar como Bento Moreno, volte a estar acessível aos leitores portugueses. Manuel Curado, Ana Lúcia Curado e Patrícia Gomes Leal coordenam a «Obra Completa de Francisco Teixeira de Queiroz».
Médico, colaborador em vários jornais, deputado, vereador republicano e Ministro dos Negócios Estrangeiros, Francisco Teixeira de Queiroz nasceu em Arcos de Valdevez a 3 de maio de 1848 e faleceu em Sintra a 22 de julho de 1919. Concluiu o curso de Medicina, em Coimbra, em 1880, estreando-se nas letras um pouco antes, em 1876, com o conto «O Tio Agrela», vindo a lume no Diário Ilustrado. Teixeira de Queiroz foi ainda presidente da Academia das Ciências de Lisboa e mestre do conto e do romance, dividindo a sua produção romanesca em duas séries: Comédia do Campo, 1876-1915, e Comédia Burguesa, 1876-1919, duas séries que fixaram a experiência portuguesa do final do século xıx e início do século xx. Escritor, Teixeira de Queiroz cultivou o realismo naturalista na linha de Balzac e em obras como A Nossa Gente, onde evoca a sua terra natal, deixou‑nos páginas de relevante impressionismo. Na História da Literatura Portuguesa, António José Saraiva e Óscar Lopes comparam o seu talento ao de Eça de Queirós.
Manuel Curado é professor de Filosofia na Universidade do Minho, nomeadamente nas áreas de Filosofia Antiga e Filosofia em Portugal. É ainda Auditor de Defesa Nacional e realizou o Curso de Alta Direção para a Administração Pública. É doutor sobresaliente cum laude pela Universidade de Salamanca, tendo obtido anteriormente o grau de mestre em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. Proferiu conferências em muitos países, da Rússia ao Brasil, e foi professor Erasmus em Itália.
Ana Lúcia Curado é professora de Estudos Clássicos na Universidade do Minho. Formou‑se e doutorou-se na Universidade de Coimbra. Dedica-se aos estudos de oratória antiga, do feminino na Antiguidade, de teatro clássico e da receção dos autores e temas clássicos na literatura portuguesa. É também tradutora de textos clássicos.
Patrícia Gomes Leal formou-se em Línguas e Literaturas Europeias e é mestre em Teoria da Literatura e Literaturas Lusófonas pela Universidade do Minho. É doutoranda em Estudos Globais, na Universidade Aberta, investigando a obra de Teixeira de Queiroz. É bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.