A Imprensa Nacional acaba de lançar a edição crítica de A Relíquia, de Eça de Queirós.
Este título insere-se numa série editorial da editora pública portuguesa associada a um projeto de investigação desenvolvido no Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, e que chega agora ao seu 20.º volume.
O romance A Relíquia, publicado pela primeira vez em 1887, ocupa um lugar singular na produção literária queirosiana e é um dos romances de Eça de Queirós com maior repercussão internacional, como o atestam as inúmeras traduções que tem conhecido. Quando Valéry Larbaud (1881-1957) prefaciou a tradução de A Relíquia para francês, o escritor, ensaísta, romancista e poeta francês não hesitou em dizer que Eça de Queirós seria um dia reconhecido como um dos maiores escritores europeus do século XIX.
Em A Reliquia estamos perante uma obra que se situa «na linha da literatura e do pensamento anticlericais, muito férteis no século XIX, e que diretamente se relaciona com as resistências e com as contradições que a laicização da vida pública portuguesa enfrentou, desde o advento do Liberalismo», segundo Carlos Reis, coordenador da «Edição Crítica de Eça de Queirós».
O livro relata as aventuras e desventuras do seu «herói», Teodorico Raposo, muitas delas cómicas, o seu comportamento com pulsão erótica e a temática anticlerical. A sensibilidade romântica da época levou-o ainda a escrever sobre os lugares exóticos que foram o berço do Cristianismo.
O relato em que Eça quis pôr «o manto diáfano da Fantasia» sobre «a nudez forte da Verdade» tem uma outra história, esta de caráter pessoal. Liga-se ela à experiência do escritor como viajante e à digressão que, ainda jovem, fez por terras do Egito e da Palestina. Muito do que ficou dessa jornada está projetado no texto d’A Relíquia e em abundantes e quase sempre saborosas notas de viagem, muitas delas deixadas inéditas. Na época, estava ainda bem viva uma sensibilidade romântica que não resistia ao forte apelo das origens do Cristianismo, nos lugares exóticos que foram o seu berço. Eça não desprezou esse apelo. A história literária d’A Relíquia envolve também as reações que a burlesca história de Teodorico Raposo provocou no Portugal conservador, sisudo e beato da época.
Carlos Reis in Nota Prefacial
Em A Relíquia, Carlos Reis contou com a colaboração de Maria Eduarda Borges dos Santos, uma estudiosa no campo dos estudos queirosianos, cuja tese de doutoramento, intitulada Da Identidade Feminina na Ficção Portuguesa de Oitocentos: Voz(es) de Mulher, Perspetiva(s) de Autor, foi defendida na Universidade de Salamanca, em 2012, e que aqui assina a Introdução.
A coleção «Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós» propõe-se rever e fixar, de acordo com princípios da crítica textual ajustados a um autor moderno, o chamado cânone queirosiano. Além disso, esta coleção propõe-se fazer a história de cada texto, entendida como contributo decisivo para incutir segurança e fundamento àquela revisão. Cada volume inclui, além do texto fixado e anotado, uma circunstanciada introdução, notas biobibliográficas e eventualmente apêndices…
Saiba mais detalhes sobre este título aqui: https://imprensanacional.pt/edicoes/a-reliquia/