Foi a 20 de fevereiro de 1909 que o italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) publicou o seu Manifesto Futurista, no jornal francês Le Figaro, orquestrando um novo movimento literário e artístico: o futurismo. Um movimento que teve ecos um pouco por toda a parte. Estávamos no início do século XX.
No seu Manifesto, Marinetti rejeitava a tradição estética e fazia a apologia do mundo moderno, exaltando a vida urbana, as máquinas e a paixão pela velocidade. Para Marinetti só abolindo a tradição romântica e naturalista (valores que levavam à inação) se poderia fazer uma revolução cultural aberta ao progresso. Estava criada uma nova fórmula de Arte-Ação — uma «lei de higiene mental», como lhe chamou.
Marinetti hesitaria entre as palavras Dinamismo e Futurismo: «Hesitei entre as palavras Dinamismo e Futurismo. Mas o meu sangue italiano pulsou mais forte quando os meus lábios inventaram a palavra Futurismo em voz alta», escreveria ele em 1915.
O movimento que estava a fazer furor na Europa chegou a Portugal por via de intelectuais que viviam, na época, em Paris. E fez escândalo. Nas artes plásticas, Guilherme de Santa‑Rita Pintor é o autor daquela que é consensualmente considerada a obra central do futurismo português, Cabeça, de 1910.
Nas letras «Manucure», de Mário de Sá‑Carneiro, constitui um dos poemas mais importantes do futurismo na literatura portuguesa, a par das odes de Pessoa/Álvaro de Campos «Ode Triunfal» e «Ode Marítima» e dos poemas-manifesto de Almada Negreiros: o Manifesto Anti-Dantas e Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX — este último um espetáculo posto em cena por Almada Negreiros, onde declarava:
Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva. (…) É preciso criar a pátria portuguesa do século XX. O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades”, adiantando ainda que, para cumprir este objetivo, seria necessário combater o romantismo, o saudosismo, o sentimentalismo sebastianista, o amadorismo e o derrotismo.
Também a revista Orpheu publicaria também trabalhos futuristas assim como a revista Portugal Futurista, que conheceu apenas um número, publicado em 1917. A revista seria apreendida pouco depois de ser posta à venda, na sequência de uma denúncia da «linguagem despejada» do texto «Saltimbancos», de Almada Negreiros.
Almada Negreiros (1893-1970) foi poeta, dramaturgo, romancista, caricaturista, pintor, coreógrafo e declarava-se… futurista e tudo!
A Imprensa Nacional publicou as suas «Obras Completas» bem como O Essencial sobre Almada Negreiros, de autoria de José-Augusto França. Mais recentemente a editora pública editou Almada Negreiros – Um Percurso Possível e, juntamente com a Pato Lógico Edições, Almada Negreiros — Viva O Almada Pim!, na coleção infantojuvenil «Grandes Vidas Portuguesas». José Jorge Letria escreveu o texto e Tiago Albuquerque ilustrou.