O mais recente volume da coleção «Biografias do Teatro Português» é dedicado a João Anastácio Rosa (1812?–1884), ator que pertenceu à primeira geração de atores românticos, tal como Emília das Neves, biografada no volume quarto desta coleção. O seu nome está associado não apenas a uma época na qual se procurou fazer do teatro um fator de civilização e de modernização da sociedade, mas também à transformação da imagem do ator nessa mesma sociedade.
Esta biografia, de autoria de Maria João Brilhante, convida o leitor a descobrir, através do discurso dos seus contemporâneos, de que modo o seu contributo para o novo papel conferido ao teatro residiu não apenas nas qualidades artísticas que revelou nos palcos e nas belas-artes, mas também na projeção que soube dar à sua própria figura de ator. Nesse sentido, foi um ator moderno.
O leitor encontrará nestas páginas a análise de momentos marcantes da sua vida e carreira teatral: o estudo e apuro das suas personagens, a contínua ligação às artes plásticas, as relações com grandes atores do teatro francês e com a boa sociedade do seu tempo, a visão cosmopolita acerca da preparação do ator, o cuidado que colocou na construção social da sua imagem, ao ponto de a perpetuar através dos seus dois filhos, João e Augusto Rosa, notáveis figuras de uma linhagem que marca a história do teatro português.
João Anastácio Rosa foi um distinto ator da geração romântica, que começou a sua carreira em 1839, ao lado de Emília das Neves, Tasso, Teodorico, Carlota Talassi, Sargedas, Delfina, entre outros, no Teatro da Rua dos Condes dirigido por Émile Doux, e que integrou a primeira companhia do Teatro Nacional D. Maria II, em 1846. Foi o Vilão em muitos melodramas do início da sua carreira, mas um grave problema de voz fê-lo descobrir outro modo de ser ator, através do estudo e da observação.
Maria João Brilhante, analisando o que sobre ele se escreveu e partindo em busca de traços do ator moderno, evidencia aspetos singulares da arte e da existência pública do ator que justificam a sua inscrição na história do teatro português. João Anastácio Rosa, ou «Rosa pai», como ficou conhecido por dele descenderem dois dos maiores nomes da cena portuguesa do final de Oitocentos, foi celebrado em vida e depois da sua morte pelos desempenhos no palco e pela sensibilidade artística que evidenciou também como artista plástico, cenógrafo e figurinista. É esse retrato multifacetado que importa descobrir.
Maria João Brilhante é doutorada em Literatura Francesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde lecionou de 1979 a 2022. Participou na criação da área dos estudos de teatro (licenciatura, mestrado e doutoramento) nos anos 90, nessa Faculdade. É investigadora do Centro de Estudos de Teatro, que dirigiu por diversas vezes. Foi responsável pelo projeto de investigação OPSIS: Base de Dados Iconográfica de Teatro em Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Foi presidente do Conselho de Administração do TNDM II (2008-2011). Publicou ensaios e organizou livros sobre literatura, tradução, iconografia e história do teatro e do espetáculo. Pertence aos Conselhos Editoriais da revista Sinais de Cena e do European Journal of Theatre and Performance.
A coordenação científica da coleção «Biografias do Teatro Português» está a cargo de Maria João Brilhante e Ana Isabel Vasconcelos, professora auxiliar no Departamento de Humanidades da Universidade Aberta, onde leciona, desde 1991, Literatura Portuguesa e História do Teatro Português.
A edição é o resultado de uma parceria com TNDM II, TNSJ e Imprensa Nacional.