A Fundação Calouste Gulbenkian está a acolher a primeira conferência, em Lisboa, da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI). Começou ontem e termina hoje. Durante este dois dias (21 e 22 de novembro) as línguas portuguesa e espanhola conferenciam sobre o seu estatuto de línguas policêntricas.
Ibero-América: uma comunidade, duas línguas pluricêntricas, assim se intitula a conferência, que recebe académicos, cientistas, especialistas de várias áreas do conhecimento, responsáveis de governo e várias comunidades educativas, culturais e económicas.
O objetivo, segundo a organização, é abordar a situação das duas línguas e a sua maior promoção, de modo a reforçar o bilinguismo na região e a internacionalização do português e do espanhol, em benefício das duas comunidades que juntas perfazem cerca de 800 milhões de falantes.
Os tópicos em debate estão distribuídos por e sete painéis, ao longo destes dois dias, e são os seguintes:
1.Espanhol e Português: duas línguas do futuro: geografias, demografias, diásporas, modalidades de uso das línguas, organizações internacionais, agências de cooperação internacional e sociedade civil, geopolítica das línguas.
2.Línguas e Economia: potencial de internacionalização das empresas, valor das línguas e seu contributo para as indústrias culturais e economia criativa.
3.Línguas e Desenvolvimento de Competências: ensino-aprendizagem das línguas, intercompreensão, formação de professores, modalidades de ensino, didáticas, projetos de ensino das duas línguas na região – escolas bilingues de fronteira, na perspetiva intercultural.
4.Políticas de Língua para a Internacionalização: mobilidade académica, intercâmbio entre sistemas educativos, ciência plurilingue, repositórios científicos, tecnologias da língua, tradução e interpretação, certificação internacional, reconhecimento de títulos.
5.Plurilinguismo, Pluricentrismo e Diálogos Interculturais: línguas em contacto, contextos de uso bilingues e interculturais, redes de ensino das línguas e redes de cultura, de educação superior, diplomacia cultural como espaços para a difusão das línguas.
6.Línguas e Sociedade Digital: tecnologias das línguas, processamento da linguagem natural, internet e redes sociais.
7.Línguas, Artes e Culturas: artistas, gestores culturais, tradutores debatem sobre o lugar das artes e o valor da dimensão multicultural e da diversidade linguística.
O Prelo assistiu ontem ao segundo painel que contou com a coordenação de Luís Antero Reto, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), teve como relator José Luis García Delgado, da Universidade Complutense de Madrid, e como oradores: Lluis Bonet, da Universidad de Barcelona, Aureliano Neves, da Câmara de Comércio Hispano Portuguesa, Artur Santos Silva, da Fundação La Caixa, Portugal e Duarte Azinheira, da Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Qual a relevância das línguas e das culturas na internacionalização das empresas? Como aproveitar o valor das línguas? Qual o contributo das línguas para a economia e para as indústrias culturais e criativas? Foram algumas das perguntas que os intervenientes neste painel tentaram responder.
Luis Antero Reto começou por afirmar que «a língua é mais forte do que a geografia». Lluis Bonet defendeu que quanto maior é a comunidade/mercado que partilha uma língua maiores são as economias de escala para a produção e comercialização de produtos. Aureliano Gomes, por sua vez, recordou que o português e o espanhol são línguas de trabalho úteis em pelo menos 30 países, referindo-se à língua como uma ponte que encurta distâncias e comparou uma língua comum a uma moeda comum: «amplia mercados, reduz custos e aproxima pessoas». Já Artur Santos Silva falou do português e do espanhol como duas «línguas fortíssimas no desafio digital» e defendeu uma maior intervenção das universidades na divulgação das duas línguas. Duarte Azinheira deu o exemplo de Imprensa Nacional como um «caso de estudo» na questão do «poder suave» da cultura e da língua para a promoção de outros negócios. «A cultura permite acessos independentemente das orientações políticas dos governos, criando uma boa vontade propícia aos negócios. Quando as empresas começarem a poder dispor de uma parte do seu orçamento para a cultura — como a Imprensa Nacional-Casa da Moeda o faz — isso trará grandes beneficio aos seus negócios.».
Além da OEI que promove a Conferência, a Comissão Organizadora integra os governos de países ibero-americanos, sendo Portugal país anfitrião, Brasil e Espanha países promotores, com a colaboração do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Instituto Cervantes, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) e Fundação Calouste Gulbenkian. Este evento tem também o apoio de outras entidades públicas e privadas, nomeadamente da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Ibero-América: uma comunidade, duas línguas pluricêntricas termina hoje pelas 18h30, com intervenções do secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, do presidente do INEP (Brasil), Alexandre Pereira Lopes, e do ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Pelos 17h30, haverá uma conferência da escritora Nélida Piñon.
Ibero-América. Uma região com identidade própria e um horizonte de futuro.
Assista a video aqui: