A Imprensa Nacional, chancela editorial da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), apresenta o vol. 1 da coleção «Obras de Mário Soares», Portugal Amordaçado — Depoimentos sobre os anos do fascismo, no próximo dia 7 de dezembro, pelas 18h30, numa sessão que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian e em que participam o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro. A obra será apresentada por Jaime Gama. Neste dia, Mário Soares completaria 99 anos de idade.
Depois do vol. 0, As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga — Com notas de leitura de António Sérgio e cartas sobre a obra, a coleção prossegue agora com Portugal Amordaçado, um dos mais importantes testemunhos da luta contra o regime de Salazar e um título central na vasta bibliografia do seu autor. Soares escreveu-o entre 1968 e 1972, durante o seu exílio em França, e veio a publicá-lo, em 1972, em língua francesa, sob o título Portugal Bailloné — Un Témoignage.
Para José Manuel dos Santos, coordenador da coleção, Portugal Amordaçado é «uma grande obra da literatura política contemporânea. Neste seu livro dos livros, Mário Soares mostra uma agilidade literária, uma exigência moral, uma lucidez ideológica, uma vontade incessante e uma vitalidade política que o futuro viria a confirmar e engrandecer.».
Retrato esmagador, em tom de denúncia e manifesto, contra o Regime do Estado Novo, com um forte registo autobiográfico e uma visão clara de futuro de um Portugal democrático, já sem colónias e integrado na Europa, Portugal Amordaçado — Depoimento sobre os anos do fascismo é uma obra fundamental da historiografia contemporânea, que só viria a ser publicado, em Portugal, meses após a Revolução dos Cravos, em 1974.
Há muito esgotada, a obra que a Imprensa Nacional agora disponibiliza (versões portuguesa e francesa) é uma edição crítica composta por dois tomos, incluindo uma extensa correspondência inédita que Soares recebeu e enviou sobre este livro. Conta também com um ensaio do historiador Fernando Rosas, uma história da obra, da autoria dos historiadores Pedro Marques Gomes e Teresa Leitão, e um dicionário biográfico de personalidades e acontecimentos.
Para o historiador Fernando Rosa este foi um livro escrito «com urgência à beira do fim e do princípio, o Portugal Amordaçado iria tornar-se o prefácio ao Portugal democrático por que se batera o seu autor».
Já Duarte Azinheira, administrador da INCM, realça que «a publicação de Portugal Amordaçado é, para a editora pública, uma das melhores formas de iniciar as celebrações dos 50 anos da democracia portuguesa e, ao mesmo tempo, de homenagear o estadista e o escritor, que lutou pela liberdade, cumprindo um papel fundamental na história recente do país. Esta é também uma forma de cumprir com uma das principais missões da INCM no que diz respeito à publicação de obras de grande impacto para o panorama nacional, como é o caso.».
O vol. 2 da coleção será dedicado à longa entrevista que Soares concedeu à jornalista Maria João Avilez, previsto já para o próximo ano e que teve a sua publicação, na década de 1990, em três volumes, que também se encontram esgotados.
A coleção «Obras de Mário Soares» baseia-se na investigação de mais de dois milhões de documentos do arquivo do antigo Presidente da República, muitos deles inéditos, que se encontram na Fundação Mário Soares e Maria Barroso. Esta é uma coleção que, nos seus vários volumes criteriosamente documentados, além das múltiplas obras publicadas em vida — como ensaios doutrinários, depoimentos, crónicas, entrevistas, memórias, discursos e intervenções — acolherá inúmeros escritos inéditos e dispersos, como milhares de cartas trocadas com grandes figuras nacionais e internacionais. Este vasto espólio tem sido estudado, transcrito e anotado, dando-se a conhecer, nesta coleção, pela primeira vez, toda a obra escrita e o pensamento do político e intelectual Mário Soares, figura fundamental da nossa história contemporânea, cujos testemunhos são uma fonte primária, insubstituível e essencial da historiografia portuguesa, mas também europeia e mundial recentes.
A coordenação da coleção é da responsabilidade de José Manuel dos Santos, antigo assessor e colaborador próximo de Mário Soares, para quem «estas Obras de Mário Soares são as de um político que queria ser escritor — e que foi escritor ao ter sido político. Para ele, a escrita e a política eram duas formas de fazer o mundo. Sem uma, a outra não era ela. Com as duas, cada uma era ainda mais do que era.».