Detalhes de documento

  • Arquivo
    Arquivo do Instituto Camões
  • Cota
    PT/MNE/CICL/IC-1/00775/18
  • Tipo de documento
    Ofício
  • De:
    Manuel Lopes Canhão
  • Para:
    Secretário do Instituto para a Alta Cultura
Transcrição

«Exm.º Sr. Dr. António de Medeiros Gouveia,
Ilustre Secretário do Instituto para a Alta Cultura:

Na minha qualidade de profissional da fundição de tipos peço vénia para expor a V. Ex.ª., ainda que resumidamente, o que se me oferece acerca da mesma especialidade ante as necessidades da tipografia no nosso país e do muito que esta ficaria devendo ao Instituto para a Alta Cultura se ele se dispusesse a colaborar na solução do problema que a arte de produzir caracteres de imprensa constitui nas actividades nacionais como parte integrante, senão básica, da indústria do livro.
O interesse que me tem despertado a minha profissão, suscitando-me o desejo de divulgar o que penso dela para assim criar uma corrente de opinião impulsionadora de cometimentos afins – aliás já evidentes -, levou-me a proferir uma conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa e publicar em livro o meu estudo intitulado Os caracteres de imprensa e a sua evolução histórica, artística e económica em Portugal.
A minha actuação em defesa do desenvolvimento da fundição de tipos entre nós, pugnando pela criação de caracteres portugueses, possível mas nunca efectuada, e por apetrechamento de maquinismos e implantação dos mais modernos processos de trabalho, gerou em mim um estado de espírito de permanente ansiedade de realização, que tem transparecido através da exposição dos meus pontos de vista.
Funcionário que sou da Imprensa Nacional de Lisboa, em Dezembro de 1949 (Ordem de Serviço nº. 721) foi-me confiada a direcção da Escola de Fundição, que ali está funcionando sob a orientação por mim traçada em programa do Curso aceite pela respectiva Administração.
Cumulativamente, em Abril p.p. (Ordem de Serviço n.º 725) fui nomeado subchefe da oficina da fundição de tipos.
Umas e outras funções colocam-me numa posição de grandes responsabilidades, às quais é legítimo desejar corresponder. Contudo, para o conseguir e desviar-me do de estagnamento a que muitas vezes conduzem as funções directivas sem alentos próprios, da rotina, enfim, que torna autómatos os indivíduos e obscuras as atribuições, venho solicitar os bons ofício de V. Ex.ª no sentido de o Instituto para a Alta Cultura promover e subsidiar o meu estágio em fábricas produtoras de tipos no estrangeiro e visitas às que constroem os respectivos maquinismos e a laboratórios em que a investigação científica, posta ao serviço da indústria, dê o sentido prático da formação de ligas de aplicação tipográfica.
Os países onde tais elementos se encontram são para designar em pleno a estabelecer. Todavia, permito-me considerar que a França, a Suíça e a Itália se admitem no número deles.
Confiado no conhecimento superior que V. Ex..ª possui dos problemas do livro em Portugal e da missão da tipografia e definidas, como estão, a finalidade da composição mecânica e da composição manual, apresentando-se esta, sem dúvida, como afirmação da arte na contextura geral do livro, enriquecendo-o – e só existindo bom material tipográfico móvel ela será possível, nisto se fundamentando a minha maior aspiração de ordem técnica e artística para cumprir os meus deveres de cargo, anima-me o convencimento de que a mesma aspiração merecerá o desejado e utilíssimo acolhimento de V. Ex.ª, e o do alto organismo que superintende.

Com a maior consideração, subscrevo-me, de V. Exª.
Atento Venerador Muito Grato,

(a) Manuel Lopes Canhão
Lisboa, 18 de Maio de 1950.»

O