“(…) Há quatro anos que se exauriu inteiramente a última edição dos Missais e Breviários Romanos, propriedade da Imprensa Nacional. A falta destes livros tem atacado esta casa nos seu interesses e no seu crédito. Nos seus intereses pelo ganho, aliás considerável, que lhe resultaria da venda daqueles exemplares; e no crédito por que parece filho de desleixo e má administração o deixar acabar uma tal edição sem que outra a substituisse imeditamente. A grande despesa porem que exige uma edição recente, e a escassez de meios da Imprensa Nacional tem dado causa a esta falta. A última edição que em 1816 se fez dos Missais e Breviários, em número de 2500 exemplares custou a quatia de rs. 17:324.750 como provam as notas inclusas. Hoje com a extinção das Ordens Religiosas e impressão de muitas Colegiadas não convém fazer uma edição de mais de 1500 exemplares; mas esta, por um cálculo muito aproximado importará em 11:100.000 rs, que devem deixar o lucro, pouco mais ou menos, da 3ª parte desta despesa, em dez a doze anos. Não convém também que a edição seja de menos número de exemplares, por que a composição e impressão desta obra é uma especialidade e por isso muito mais importante do que a de outra qualquer obra.
Além da cantafem de quase quatro contos de reis que a Imprensa Nacional tira da edição daqueles livros, deve considerar-se que muitos braços portugueses de diferentes oficios, que se praticam nesta Casa, se empregarão neste trabalho. Evitar-se-á que os expeculadores mandem vir de França ou de Itália Missais e Breviários Romanos para aqui venderem por alto preço, tirando-nos um ramo de comércio, que nós fazíamos extraindo estes livros, não só para o país, mas para o Brasil e Espanha, porque a edição de Lisboa passa pela segunda que se conhece mais nitida e perfeita. As chapas das estampas que se vêem nos Missais e Breviários, que são um primor de arte, e que custaram a esta Casa mais de vinte mil cruzados, ficariam inuteis se esta edição se não fizesse, porque só servem para este fim.
Em presença pois do que deixo dito, confiando plenamente na protecção de V. E. para com um Estabelecimento Público eu V.E. muito bem conhece e avalia, lembro-me de propor a V. E. um meio que me levará a meter ombros à empresa da edição dos Missais e Breviários Romanos. O Ministério da Fazenda deu os meios a meu irmão, meu antecessor, para ele adquirir para esta Casa as máquinas e diferentes objectos que a colocam a par dos grandes estabelecimento deste género. Quando eu vim substituir o meu falecido irmão neste lugar, fui auxiliado pelo mesmo Ministério com alguns adiantamentos para fazer face às despesas correntes. Aqueles fundos ministrados a meu irmão, e os adiantamentos que eu recebi somavam em 1846 mais de 12.000.000 rs. Foi estabelecido que a Imprensa Nacional pagou ao Ministério da Fazenda pela quarta parte da importancia dos impressos que por essa ordem fossem aqui feitos, e por esta meio acha-se hoje esta Casa na divida somente de rs. 1.083.617, como deve constar na Repartição de Contabilidade geral do mesmo Ministério. Ora se V. E. , a exemplo dos meus antecessores, e pelas suas benévolas disposições, quise mandar fazer uma adiantamento de 6.000.000 réis por prestações regulares de 500.000 réis mensais por conta dos impressos para o Ministério da Fazenda eu poderei começar a edição dos Missais e Breviários, conquanto enceda a 11.000.000 rs., como acima disse, porque aquela quantia me habilitara a pagar o papel para a obra, e a tiragem das estampas e vinhetas, ficando-me ainda algum remanescente para com os meios ordinários desta Casa ocorrer ao pagamento da composição e impressão. Os 6.00 rs com a quantia ainda em divida de 1:083.617 serão pagos em 4 anos segundo a maneira que se acha estabelecida, calculando em 1:840.000 rs a amortizaão de cada ano, pelo termo médio das últimos três anos económicos. O Ministério da Fazenda tem nesta divida a mais segura garantia e regular pagamento, porque como vulgarmente se costuma dizer, paga-se por suas mãos deduzindo 25 porcento da importância dos impressos de que precisa, e que necessariamente manda fazer na Imprensa Nacional. Espero pois que V. E. pelo interesse que lhe devem todos os ramos de serviço público e pela particular atenção com que sempre tem olhado para este vasto e útil estabelecimento se dignará de deferir à minha proposta.
(…) 23 de Setembro de 1850
Ill.mo e Ex.mo Sr. António José d’Ávila, M. e Secre. De Estado dos Negócios da Fazenda
O Administrador Geral”
(documento 71 – numeração atribuída aos documentos resultam de contagem nossa. Não se encontram numerados)