Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    157
  • Tipo de documento
    Ofício
  • De:
    Administrador Geral
  • Para:
    Director Geral da Instrução Secundária, Superior e Especial
Transcrição

“(…) Como ontem tive ocasião de expor verbalmente a V. Ex.cia , a situação do revisor Artur Caldas tem-se agravado de dia para dia a dentro da Imprensa Nacional. Não só é um funcionário com quem, pela sua irregular conduta, se não pode contar, conforme factos anteriormente ocorridos o comprovam, como também o seu serviço não merece a menor confiança, segundo os testemunhos do chefe da revisão Sr. Dias Coelho, e do revisor Sr. Eugénio Sales que juntamente com este oficio, envie a V. Ex.cia.. Independentemente disto, que é sobremodo grave, ocorre agora novo incidente, para o qual chamo a esclarecida atenção de V. Ex.cia, e que, melhor do que todas as minhas exposições, se acha suficientemente esclarecido nas copias dos documentos juntos. Por esses documentos, a que me dispenso de acrescentar quaisquer considerações, verá V. Ex.cia que o revisor Caldas, não satisfeito com as concessões – algumas delas extradinariamente excessivas – que lhe foram feitas até há pouco tempo, me injuriou publicamente bem como a alguns membros do governo, agravando esse procedimento com a afirmação quase constante de que, apesar de ser um elemento suspeito, visto haver sido o secretario particular do último governador civil da monarquia, nada tem a recear, isto de envolta com várias ameaças, uma das quais em que não se deve acreditar, é a de que tem as costas quentes, pois que até vai ser requisitado para trabalhar num gabinete ministerial. Penso que V. Ex.cia terá como conveniente resolver sobre este caso com a urgência que ele requer, tanto mais que, em virtude dos depoimentos que junto envio V. Ex.cia e de onde se vê que o revisor Caldas incorreu em falta disciplinar, previsa no n.º3.º do art.º 391.º do regulamento em vigor, o mandei hoje suspender. Fico aguardando as ordens de V. Ex.cia sobre se entende em face das injurias do revisor Caldas, devo lavrar auto do facto e submete-lo ao poder judicial, sem prejuízo de qualquer procedimento disciplinar ulterior.

Saúde e Fraternidade.

Lisboa 14 de Julho de 1911

Ex.mo Sr. Director Geral da Instrução Secundária, Superior e Especial

O Administrador Geral

Luís Derouet”

(pp. 22-23)

“COPIA

Ex.mo Sr. – Apresentou-se-me esta tarde o revisor Sr. Eugénio Sales a declarar que não desejava continuar mais a fazer serviço nocturno na companhia do revisor Artur Caldas, para fugir do desgosto de estar constantemente ouvindo desse senhor referências, em voz alta, nada honrosas não só para o caracter e procedimento de V. Ex.cia como administrador deste estabelecimento, como também para cá de muitos vultos republicanos, nomeadamente alguns dos actuais ministros. – Mais me declarou o Sr. Eugénio Sales o mesmo que eu já tive ocasião de dizer a V. Ex.cia : – não poder, tal como eu, ter confiança alguma na revisão do mesmo Sr. Caldas, pela pouca atenção que prestava ao trabalho. – Por estes motivos, e para evitar qualquer conflito, acedi ao pedido do Sr. Sales e imediatamente o fiz substituir pelo Sr. Fernando de Sousa, a quem terá de se abonar o serviço que extraordinariamente terá de prestar esta noite. – Eis o que me cumpre participar já a V. Ex.cia para os fins convenientes. – Saúde e Fraternidade – Gabinete da Revisão 12 de Julho de 1911.
Ex.mo Sr. Luís Carlos Guedes Derouet Dg.mo Administrador Geral da Imprensa Nacional de Lisboa – (a) J. A. Dias Coelho, chefe dos serviços.

Ex.mo Sr. – Cumpre-me participar a V. Ex.cia que hoje, ao meio-dia, o revisor Artur Caldas pediu licença para não voltar de tarde, dizendo-me ter necessidade de ir buscar um atestado medico. Por fazer falta ao serviço entendi não lha conceder. – O mesmo Sr. saindo em seguida para lanchar, não voltou e mandou, pela hora e meia da tarde, o requerimento que V. Ex.ª já conhece. – Saúde e Fraternidade – Gabinete da Revisão em 6 de Julho de 1911 – Ex.mo Sr. Luís Carlos Guedes Derouet Dg.mo Administrador Geral da Imprensa Nacional – (a) J. A. Dias Coelho, Chefe dos Serviços.

(p. 24)

COPIA
Ex.mo Sr. – Cumprindo as ordens que V. Ex.cia me deu, em oficio datado de hoje, com respeito à conduta do revisor Caldas na noite de 11 do corrente, ouvi os dois revisores que fizeram com ele serviço nessa noite, aos quais pedi que fizessem as suas declarações por escrito. São as que acompanham o presente oficio, que me apresso a enviar a V. Ex.cia – Saúde e Fraternidade – Gabinete da Revisão, em 13 de Julho de 1911 – Ex.mo Sr. José Gregório Fernandes Dg.mo Director das oficinas da Imprensa Nacional – (a) J. A. Dias Coelho – Chefe dos serviços

Interrogado pelo Ex.mo Sr. Dias Coelho, dg.mo Chefe da Revisão, e creio que por determinação superior, sobre o que de desagradável para alguns dos Ex.mos Ministros do actual Governo e para o actual Ex.mo Administrador da Imprensa Nacional, dissera no gabinete da revisão, em varias ocasiões de serviço, e especificamente na noite de 11 para 12 de Julho corrente, o meu colega Artur Caldas, apenas recordo sobre o assunto, o seguinte: “que ao ler um despacho abonado 600$000 réis ao 2º. Secretario da legação de Portugal no Rio de Janeiro, por lá não estar o 1º secretário, dissera – “Continua a mesma bandalheira; isto nunca se fez em tempo da monarquia – o 2.º não está lá e o 1.º também não!” – Com respeito ao actual Sr. Administrador, que me lembre, referiu-se desagradavelmente, mas não me ocorrem os termos, lendo um artigo do regulamento sobre nomeação de director das oficinas, querendo mostrar a parcialidade que houvera na nomeação do actual Sr. director provisório. De resto, de outras vezes tenho ouvido referir-se desagradavelmente do mesmo Sr. Administrador, perante toda a gente, não fazendo disso reserva. – O Revisor – João António Rosa – Imprensa Nacional13/7/911

Declaro que, na noite de 11 para 12 de Julho, o revisor Artur Caldas censurou o procedimento de S. Ex.cia o Ministro dos Estrangeiros pelo facto de ele ter abonado a quantia de 600$000 réis a um secretário de legação o que na opinião dele representa uma ilegalidade. – Igualmente censurou o procedimento do Sr. Administrador da Imprensa Nacional, pelo facto de ter preenchido a vaga de director das Oficinas e Armazéns, dizendo que tal nomeação não devia fazer por ser contraria a uns artigos do regulamento, que ele na mesma ocasião leu fazendo comentários. – Tudo isto foi dito sem reservas – Lisboa 14 de Julho de 1911 – (a) José Frederico Baptista Coelho.”

(pp. 25-26)