Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    055
  • Tipo de documento
    Exposição
  • De:
    Administrador Geral
  • Para:
    Ministro do Reino
Transcrição

Ao Ministro do Reino

Ill.mo e Ex.mo Snr. = Em resposta à Portaria que em data de 17 do corrente V. Ex.ª me dirigiu, ordenando-me que entregasse dois Tórculos, acompanhados de varios utensílios de Estamparia, assim como diversas chapas com gravuras do Professor Bartolozzi, à pessoa que para isso fosse autorizada pela Academia das Belas Artes peço licença para levar ao conhecimento de V. Ex.ª os factos seguintes. É verdade que tudo isto existe nesta oficina, mas eu vou expor qual é o motivo porque todos estes objectos a que se acham e qual é o seu destino. Com o dinheiro desta oficina, que já foi muito rica, quando ela quase exclusivamente imprimia em Portugal, e com especialidade tinha o exclusiva das Cartas de Jogar, s pagaram muitos contos de reis ao Professor Batolozzi para gravar chapas para diversas obras que aqui se imprimiram, e ainda hoje formam o grande fundo e riqueza desa Casa. Estas chapas, entre outras, pertencem as Decadas de Barros e Couto, as obras de Botânica do nosso insigne Brotero, e a um riquissimo Missal que aqui também se imprimiu. Alem destas e ainda outras de mapas, que também se imprimem nesta oficina. Ora todas estas chapas pertencem a obras que formam uma grande parte do capital deste Estabelecimento, e que diariamente se vendem fazendo igualmente assim uma parte considerável do seu rendimento, com o mais que tira da venda do tipo, e cartas de jogar. se à vista disto se mandam levar as chapas para a Academia das Belas Artes, ficam as obras ea quele ela pertencem imperfeitas, e com metade do seu valor perdido, porque por um cálculo de econoia, e para não antecipar despesas sem necessidade as Estampas só se vão tirando à proporção que as obras se vendem. De mais quando uma destas obras se reimprimir, irá esta oficina pedia à Academia de Belas Artes que lhe venda as Estampas, dobrando assim o preço das obras que deve vender? Então melhor é neste caso, que com as Estampas acumule também a Academia as obras a que elas pertencem. = Agora passoo a falar no que diz respeitos aos Tórculos, um deles é paraimprimir as Estampas que se tiram das chapas que já mencionei. E se estas são propriedade desta oficina, porque pertecem as obras impressas à sua custa, como poderão elas servir, e ser de utilidade a este Estabelecimento se não houver um Tórculo para as imprimir? O antigo Governo, querendo animar este Estabelecimento, e vendo as grandes despesas que tinha feito com a gravura das chapas, por que lhe tinham custado mil cruzados, o que a toda a hora se pode vir examinar nos livros da Receite a edespesa desta casa; deu este Tórculo à Imprensa Nacional, e eu creio que o actual Governo de Sua Magestade não há-de ser menos liberal que o antigo. O outro Tórculo é absolutamente necessário para a fabrica das Cartas; e se nos levam também este, extingue-se outra fonte do rendimento deste Estabelecimento, e sobre as suas ruinas se edificará a Academia das Belas Artes. Tenho até agora exposto as razões porque julgo não se dever privar este Estabelecimento das chapas e dos Tórculos que formam uma grande parte da sua riqueza, e que por conseguinte essencialmente concorrem para a sua existência; agora como homem, que ama as belas artes, e deseja concorrer para o aumento da Academia, direi a V. Ex.ª que aqui há [sic.] duas chapas que podem ser de muito proveito para os professores da Academia. A primeira é que gravou Bartolozi para tirar a Estampa da celebre pintura da Sagrada Forma feita pelo nosso antigo, e insigne pintor Coelho, a qual se acha no Escurial, e que eu ali vi quando por lá passei em 1821. É de tal merecimento esta pintura que foi uma daquelas que os franceses levaram para a Galeria do Louvre, e que depois foi restituida ao Espanhóis. A chapa de gravura são igualmente de um grande merecimento; e esta chapa, como inutil neste Estabelecimento, apesar de ter custado dez mil cruzados, assim como algumas Estampas delas, eu com muito prazer darei para a Academia. A segunda é da figura de El Rei D. João 6º que ainda está por acabar, não obstante que já tenha custado a este Estabelecimento quatro mil cruzados . É igualmente obra de Bartolozi, e deve ir para a Academia. Tinha-me esquecido dizer que sendo de absoluta necessidade conservar aqui os Tórculos, por que sem um acabou a fábrica das Cartas, e sem outro tornam-se inúteis as chapas pertencentes às diversas obras que mencionei, causará a perda deste ultimo ainda um grande desfalque nos rendimentos desta casa, por que actualmente está ele estampando as Inscrições para a Junta do crédito público, e todos os dias serve para outras obras que nos encomendam, e com as quais, na falta de outros pagamentos, se vai sustentando esta casa. Tenho sido talvez demasiadamente extenso, mas a obrigação que tenho de avogar os interesses da Repartição a que presido me forçou a isto. Em verdade, nem eu quisera que na minha mão morresse este Estabelecimento, nem mesmo sogresse quebra em seu progresso e adiantamento. Há pouco me mandou perguntar V. Ex.ª quais eram os meios que eu julgava proprios para a progressiva prosperidade e apergeiçoamento desta oficina, e por isso não posso crer que para criar um Estabelecimento novo queira arruinar um antigo, e único actualmente no seu género em o nosso país. Certamente os Professores da nova Academis não puderam dar informações exactas a V. Ex.ª, e eu confia que as minhas serão suficientemente poderosas para impedir a decadencia da Imprensa Nacional. Deus Guarde a V. Ex.ª. Lisboa, Administração Geral da Imprensa Nacional. 21 de Abril de 1837. Oll.mo e Ex-.mo Snr. Manuel da Silva Passos Secretário de Estado dos Negócios do Reino. = José Liberato Freire de Carvalho.” (pp. 32-34 v.)