Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/ArINCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacionalquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    s.c.
  • Tipo de documento
    Representação
  • De:
    Administrador Geral
  • Para:
    Ministério do Reino
Transcrição

“(…) Em 11 de Dezembro último tive a honra de entregar a V. E. uma circunstanciada representação sobre o estado da Imprensa Nacional, mostrando, a meu ver, evidentemente, que se V. E. se não dignasse de atender ao apuro de maios pecuniários em que se acha esta Casa não era possível a sua conservação. Em consequência pois das mesmas razões, e ainda mais pelos desejos que V. E. tem de prover a todos os objectos do serviço público, que dependem do Ministério do Reino a seu cargo, mandou V. E. dar à Imprena Nacional a quantia de 400.000 réis – por conta do que o mesmo Ministério deve na« este Estabelecimento. Esta quantia porém foi toda aplicada para um dos fornecedores de papel, Francisco Laureano Pita, administrador da hoje Fábrica da Abelheira, a quem se devia 1:222.500 réis, e que tinha declarado que não continuava a fornecer se não se lhe pagasse parte ou toda a dívida. Entretanto depois de haver recebido os 400.000 réis disse que não podia continuar o fornecimento sem receber pelo menos metade do que se lhe resta, isto é, quatrocentos e tantos mil reis pois que a divida ainda de 822.500 réis ao outro fornecedor da Casa, Marques de [?] deve-se também 1:215.585 réis igualmente declarou que não podia fiar mais papel. Os fornecedores antigos Miguel José Dias e António Nicolau Afonso Redondo negaram-se inteiramente a vender fiado à Imprensa Nacional, pela grande dívida de que lhe são credotes, que sobe a 6:000.000 réis. Vejo-me pois sem dinheiro e sem crédito para haver papel em que se possa imprimir a pouca composição que hoje se faz nesta Casa; havendo dias algumas coisas que deixam de imprimir com grave transtorno de serviço público, como a Legislação do ano de 1846, que está atrasada seis meses, unicamente por falta de papel. As circunstâncias do país desde Maio último tem feito diminuir consideravelmente os trabalhos tipográficos desta Casa, e consequentemente os seus rendimentos. Não só tem escasseado as obras dos particulares, mas as dos diferentes Ministérios, sendo para notar que importando regularmente os impressos para o Ministério da Fazenda em doze a treze contos de reis cada ano, não chega a sua importancia nestes últimos meses a cento e vinte mil réis!!
Um tal estado tem reduzido a Imprensa Nacional a suma miséria, e grande parte dos seus empregados estão com fome, e para cumulo de desgraça obrigados a um pesadissimo serviço militar. Nestas tristes circunstâncias venho pedir a V. E. que se digne de olhar com atenção para este Estabelecimento, um dos mais importantes e mais uteis de Portugal, Estabelecimento único do seu género, e que sem figurar no orçamento de Estado com dotação alguma, mantém a arte tipográfica na perfeição que se nota nos países mais civilizados, e sustenta mais de quinhentas pessoas. O Ministro do Reino deve até hoje à Imprensa Nacional, de contas ultimamente remetidas, rs. 2:172.650, que sendo pagos poderão mantê-la, posto que dificilmente, por algum tempo, mas do contrário não julgo possível a sua conservação. Ora na impossibilidade de se pagar de pronto esta importancia, poderá ser dividida em reis ou oito prestações regulares; e assim contando eu com essas quantias estarei habilitado para me ajuntar com os fornecedores, e persuadi-los-ei a continuarem os respectivos fornecimentos. Permita-me V. E. que eu lhe diga que todos os Ministérios pagam pontualmente os seus impressos, e o Ministério da Marinha, cuja conta ultimamente excedera o seu ordinário, ordenou, em virtude de representação minha, que uma prestação de 240 rs. mensais fosse paga a esta Casa, para amortizar a dívida que não chega a 2:000.000 réis. E para fazer face à despesa do que continua a requisitar.
Peço perdão a V. E. pelo extenso desta exposição que julgue necessária para motivar o que deixo dito, e para me absolver da responsabilidade que sobre mim deveria pesar, se não falasse com franqueza e verdade ao Ministro a quem a Imprensa Nacional está imediatamente subordinada, e cuja inteligência e zelo pelo serviço público me dá toda a esperança de ser atendido benignamente.

(…) 17 de Fevereiro de 1846.

Ill.mo e Ex.mo Sr. Visconde de Oliveira.

O Administrador Geral

F.A.P.M.”

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