Ficha
«Referiu-se a crónica do número antecedente à inauguração deste belo certame das artes gráficas portuguesas, com aquele louvor que tal empreendimento merece, excedendo, porventura, toda a expetativa, apesar de alguns estabelecimentos deste ramo industrial não se terem feito representar.
Nas salas que, no edifício da Imprensa Nacional, se destinaram a esta exposição, em número de sete, foram dispostos artisticamente os produtos, muitos deles em instalações dos próprios expositores.
Numa grande profusão encontravam-se aguarelas que serviram de originais a tricromias admiravelmente reproduzidas, provas de gravuras em madeira, em simile gravura química, zincografia, composição e impressão tipográficas, litografias, em todos os géneros, incluindo estampagem em folha de ferro, papeis nacionais, encadernações de toda a ordem, além de obras retrospetivas, como, para assim dizer, servirem de termo de comparação, ao mesmo tempo que constituem documentos do passado, tudo ali se pôde ver e apreciar.
Da importância desta exposição diz o interesse que público por ela tomou enchendo as salas ávido de curiosidade, apreciando de modo pouco vulgar as obras expostas.
A análise mais detida dessas obras faz-se aqui em outro artigo tecnológico. Neste nos vamos referir às visitas feitas a vários estabelecimentos gráficos, pela comissão e júri deste certame e por expositores.
No cumprimento do programa da exposição realizaram-se as visitas a que acima nos referimos, principiando pelas Oficinas de Fotogravura Pires Marinho e Tipografia do Anuário Comercial. A estas nos vamos agora referir.
Foi no dia 7 do corrente que pelas 15 horas chegou às Oficinas Pires Marinho, estabelecidas em parte do Palácio Foz, na Avenida da Liberdade, a comissão organizadora da exposição com o presidente Sr. Luís Derouet, membros do júri e expositores.
Estas oficinas de uma indústria moderna deviam despertar certa curiosidade e interesse dos visitantes, que de facto não tiveram de que arrepender-se.
Os visitantes, recebidos pelo Sr. José Pires Marinho com a mais cativante delicadeza, foram por este Sr. acompanhados a todas as oficinas em plena laboração, por onde os Srs. Marinho, Alfredo Roque, encarregado, e José Gomes, gravador zincógrafo, foram dando todos os esclarecimentos sobre a complexidade dos trabalhos e maquinismos ali empregados, podendo-se ver uma grande máquina fotográfica, a maior e mais complicada que existe no país, e que importou em reis 1 700$000, empregada no processo da tricromia ou gravuras em cromo, verdadeiramente admirável.
Pôde-se assistir à laboração das vastas oficinas, desde a sensibilização da chapa pelo colódio, fixação, secamento e impressão, até à gravura pelos ácidos, o que tudo se realiza rapidamente, pelos processos mais modernos e com admirável perfeição, como não se faz melhor nem mais rápido no estrangeiro.
Entre os vários trabalhos que na ocasião se estavam executando, pôde-se notar uma série de retratos do ator Augusto Rosa em vários papéis do seu repertório, reproduzidos de nítidos e belos desenhos à pena de Roque Gameiro.
Percorridas várias oficinas, o Sr. Marinho, muito gentilmente, convidou os visitantes a um copo de água que foi servido numa das ditas oficinas para o efeito disposta.
Foi um pretexto que a muita modéstia do proprietário deste importante estabelecimento usou, para agradecer aos visitantes, e em sinceras palavras contar, ainda que resumidamente, o grande esforço de trabalho em longas lucubrações e dispêndio de capital e que foi mister para introduzir em Portugal a moderna gravura química.
Quem escreve estas linhas foi testemunha de grande parte desses trabalhos desde seu início, há mais de 20 anos, acompanhando de perto todas as tentativas.
No Occidente se publicou a primeira gravura, reprodução de um quadro, Hero e Leandro, que foi como que o primeiro raio de luz a alumiar a escuridão do problema a resolver.
José Pires Marinho com a sua ideia fixa de devassar, o que entre nós era quase um segredo, não duvidou ir à Alemanha e, como simples operário, vestindo a blusa azul, entrar num estabelecimento de fotogravura e ali estudar e praticar até conhecer, quanto possível, os segredos daquela arte.
[…]
As razões que fizeram substituir a gravura em cobre pela de madeira, eram aproximadamente as mesmas que subsistiam para a substituição da gravura em madeira pela gravura química.
Dissemos aproximadamente, porque no primeiro caso uma gravura artística, que participava da alma do seu autor, era substituída por outra também artística que levava a vantagem de custar menos por isso que se fazia em menos tempos; no segundo caso, a gravura em madeira era substituída pela gravura de processos químicos, que tinha a vantagem da barateza e da rapidez.
[…]
Terminada a visita às oficinas Marinho, segue-se a que a mesma comissão, júri e expositores fez às oficinas tipográficas do Anuário Comercial, uma das primeiras tipografias de Lisboa.
Aqui foram recebidos pelo diretor Sr. Carlos Abreu e pelo chefe das oficinas de impressão, Sr. Ricardo de Sousa, os quais mostraram aos visitantes as diferentes secções da tipografia, desde a fundição, composição e estereotipia até à impressão, que possui as maiores e mais aperfeiçoadas máquinas, tudo movido a eletricidade.
[…]
Em dias subsequentes a mesma comissão e expositores têm realizado visitas às oficinas tipográficas da Misericórdia, Imprensa Nacional, Libânio da Silva, Universal, Século, Luta, Litografia de Portugal e Editora de Justino Guedes e em todas encontrando justificados motivos de louvor […].
A visita feita à Tipografia Universal ou do Diário de Notícias […] foi seguida de uma romaria ao monumento de Eduardo Coelho em S. Pedro de Alcântara. […].
A última visita foi, como chave de ouro, às oficinas tipográficas e litográficas da Editora. Para ela convidou o nosso amigo, Justino Guedes, o Sr. Presidente da República, Ministro do Interior, Presidente da Câmara dos Senadores, Sr. Anselmo Braamcamp Freire […]».
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