«[…] tenho a honra de elevar à presença augusta de Vossa Majestade o relatório do estado material, artístico e económico do importantíssimo estabelecimento confiado à minha administração.
[…]
A Imprensa Nacional, senhor, é um estabelecimento verdadeiramente execional. Trabalhando constantemente para as diferentes repartições e estações públicas, as suas oficinas estão abertas igualmente aos particulares, que em grande número as procuram […].
Se pois, por um lado, como escola normal da arte de Guttenberg, e como quem a representa de um modo mais completo em Portugal, a Imprensa Nacional tem de apurar cada vez mais no seu trabalho, de adquirir a todo o custo as máquinas e outros objetos necessários para se conservar a par dos aperfeiçoamentos da tipografia nos países mais adiantados, de fazer empreender dispendiosos estudos e indagações; em conformidade dos ilustrados intuitos do seu magnanismo fundador tem de manter os preços dos seus produtos em condições equitativas, sem também recusar os interesses dos operários, que a este estabelecimento não só cumpre educar, como também conservar a abrigo do espírito de especulação menos razoável.
São óbvias as dificuldades que traz consigo uma semelhante ordem de coisas, e a indispensabilidade de uma boa organização do serviço superior e central. Sob este aspeto, senhor, a Imprensa Nacional, releva confessá-lo, ressente-se ainda da época remota em que foi criada e da acanhez e insuficiência da reforma que se efetuou em 8 de outubro de 1836.
Alargaram-se as oficinas, cresceu de um modo espantoso o expediente, teve de criar uma contabilidade impertinentíssima e complicada, a prosperidade geral do estabelecimento aumentou notavelmente, excedendo hoje as receitas o dobro do que eram naquela época, e o pessoal da Administração superior conservou-se o mesmo […]. Se até agora o zelo e dedicação dos empregados tem suprido, quanto é possível, a deficiência de uma organização adequada, não me parece justo que semelhante situação se prolongue indefinidamente, e que funcionários, que têm prestado bons serviços, continuem a ser desconsiderados nos seus legítimos interesses.
Eu tenho mandado estudar por uma comissão especial as diversas questões concernentes à organização completa e regulamentar da Imprensa Nacional, e logo que essa comissão me tenha apresentado o resultado dos seus trabalhos tratarei de os examinar, e de elaborar a conveniente proposta […].
Antes de passar ao exame das diversas oficinas aludirei neste lugar à biblioteca desta casa. Devendo ser não só o arquivo de todas as obras aqui impressas, como o repositório de boas edições clássicas e daquelas que são reputados monumentos da tipografia, a nossa livraria achava-se num estado muito pouco satisfatório. Logo que tomei conta da Administração cuidei de mandar inventariar o que existia, encontrando-se, como se receava, muitas e graves faltas. Desde então, cometendo a sua guarda a um empregado da contadoria, tenho tratado de adquirir os livros que me pareceram mais necessários, fazendo buscar e recolher exemplares dos aqui impressos, que aliás se não tinham encontrado.
Persevera-se no mesmo sistema, e posso afiançar que a nossa biblioteca, que tem contudo sempre de conservar modestas proporções, em breve satisfará a tudo quanto pode razoavelmente exigir-se, fornecendo ainda assim preciosos subsídios para a história da arte entre nós. Acha-se no prelo um catálogo completo, coordenado segundo o sistema seguido pelo laborioso autor do Diccionário bibliographico portuguez, e por ele ver-se-á que a Imprensa Nacional em cerca de 4000 volumes e folhetos, possui obras mui valiosas, algumas das quais se não encontram nas melhores coleções que existem no reino. […]»