«Exmº. Senhor Secretário do Instituto para a Alta Cultura
Tenho a honra de comunicar a V.ª. Exª. Que visitei demoradamente a Escola Tipográfica e a Oficina de Fundição de Tipos da Imprensa Nacional e numa e noutra conversei com o antigo bolseiro Sr. Luís de Carvalho e com o novo requerente Sr. Manuel Canhão.
Na Escola verifiquei que havia sido vantajosa a concessão dum subsídio ao respectivo mestre, pois o ensino modernizou-se e melhorou. Pena é que a orgânica do Estabelecimento não permita que a Escola seja aproveitada para a preparação de algumas obras que pelo seu aspecto artístico estivessem indicadas para se aproveitarem a boa vontade e o meticuloso interesse dos novos compositores tipográficos.
O desejo de renovar os tipos de forma a conseguir modelos novos, porventura de carácter português, justifica amplamente que se dê ao mestre de Oficina Manuel Canhão as possibilidades de examinar nos melhores centros estrangeiros aquilo que sobre o assunto se produz. A obra publicada pelo referido Sr. Manuel Canhão, intitulada “Os caracteres da imprensa e a sua evolução histórica, artística e cronológica em Portugal” e a dedicação ao trabalho a que se consagra são títulos suficientes para o indicarem para a missão que, decerto, o Instituto vai patrocinar.
Apresento a Vª. Ex.ª os meus cumprimentos
A bem da Nação.
Lisboa, 5 de Julho de 1950
(a) João Rodrigues da Silva Couto»
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Agrafado ao documento estão mais umas folhas do Grémio Nacional dos Industriais Gráficos que fazem uma espécie de apanhado com informações relativas a estabelecimentos, laboratórios, escolas, possíveis a visitar. Essas informações resultaram dos contactos estabelecidos pelo Grémio com as Legações portuguesas nos países vizinhos: França, Itália, Suíça, Espanha, Bélgica.
Resumo dessas informações:
Exemplo da carta de França (1.06.1950): listagem com fundições de caracteres tipográficos, estabelecimentos de aparelhagem destinada a fundição de tipos, laboratórios de análises de metais e ligas. Estas listas fazem-se acompanhar das moradas de cada um dos estabelecimentos referidos.
Ainda para o caso francês, o conteúdo da carta, além das listas, era o seguinte: “Da carta da Câmara do Comércio Francesa, de 1 de Junho, acerca dos laboratórios, se diz:
«…todavia, como não temos a certeza que os três referidos laboratórios estudem as diferentes ligas empregadas nos caracteres de imprensa, vamos pedir endereços ao n/Delegado em Paris e logo que os recebermos, voltaremos à presença de V. Exas.»
Como a referida carta veio o catálogo geral do Syndicat National de Constructeurs Français de Machines pour l’Industrie du Papier, du Carton et des Arts Graphiques, catálogo este em poder do senhor Figueiredo que o enviará ao senhor Manuel Canhão na próxima segunda feira.”
Nos outros casos: Da Bélgia enviaram uma lista com estabelecimentos de caracteres tipográficos (fundições), via Câmara do Comércio Belga. A Câmara do Comércio Italiana enviou, por carta de 21.06.1950, uma lista de fundições de caracteres, fábricas de aparelhagem destinadas à fundição de tipos. O mesmo se registou em relação à embaixada de Espanha em Lisboa, que enviou uma carta a 20.06.1950 com estabelecimentos de tipos de Imprensa e Maquinaria para artes gráficas.
Contudo, no caso espanhol, diz-se não terem dados sobre laboratórios, recomendando o contacto com o Sindicato Provincial de Papel e Artes Gráficas (Madrid). No caso italiano, ressalva-se que não se pode fornecer informações concretas relativamente a laboratórios, e que estes devem estar associados às fundições de tipos propriamente ditas. Da Suiça, informa-se que só existem duas fundições de tipo, que o Office Suisse d’Expansion Commerciale (Zurich) desconhece a existência de fabricante de máquinas para fundição de tipo, e, relativamente aos laboratórios, aconselha-se que o Grémio se ponha em contacto com fabricantes de ligas especiais, dos quais se oferece uma lista. (carta de 19.07.1950). Caso da Bélgica (Carta de 27.06.1950), diz que não constam existir na Bélgica fábricas de aparelhagem destinada à fundição de tipos, nem laboratórios agregados à indústria gráfica.
Nota: na última página deste documento, no verso, está a lápis uma nota, no canto superior esquerdo:
“Tempo de estudo
França 26 dias
Bélgica 9
Suíça 13
Itália 30
Espanha 12
90 dias»