Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    Docs. Do Gab. do Adm. Bebiano (1929-1955), cx. 1
  • Tipo de documento
    Ofício n.º 1352 (cópia)
  • De:
    Diretor Geral da Imprensa Nacional, Luís Derouet
  • Para:
    Diretor Geral da Administração Política e Civil
Transcrição

«Lisboa, 19 de novembro de 1919
Exm.º Sr. Diretor Geral da Administração Política e Civil
Sobre a reclamação da Comissão Administrativa do Congresso da República, que V. Ex.ª se dignou transmitir-se em 15 do corrente, seu ofício n.º 826, pelo licença a V. Ex.ª para transcrever em primeiro lugar duas seguidas informações que me foram prestadas:
Cumpre-me informar que de facto o serviço das sessões do Congresso está atrasado, não só por culpa da Imprensa como também por vezes – e isto sem o menor espírito de crítica ou de censura – por parte do próprio Congresso. Quanto porém às responsabilidades da Imprensa elas de nenhuma maneira lhe podem caber por menos zelo ou menos interesse pelo serviço, pois que se mais se não faz é apenas por deficiência de horas de trabalho, a despeito de a secção de composição estar trabalhando já extraordinariamente duas horas diárias e de a oficina de impressão laborar mais cinco horas por dia além do horário normal. A solução única a seguir seria aumentar durante algum tempo as horas de trabalho e desenvolver especialmente o serviço de máquinas de oficina de impressão. Mas a este respeito melhor sem dúvida do que eu poderá o Ex.º Sr. Inspetor das Oficinas informar, – Lisboa 17 de novembro de 1919 – (a) Armando Hora, chefe de secção da oficina de Composição.

Concordo absolutamente com a informação. Quanto à solução apresentada devo dizer que, de facto, o único meio de poder satisfazer todas as urgências é o aumento de horas de serviço, mas, para isso, é também de absoluta necessidade que a produção da oficina de impressão seja superior à atual, e isso, só se poderá conseguir (devido à insuficiência de material que atualmente dispõe) com o aumento de horas de trabalho. Já em nota de serviço foi recomendado ao chefe desta oficina a intensificação da sua produção, tanto quanto possível, mantendo-se as horas extraordinárias, e, em minha opinião, desde que elas não se mantenham, ainda se aumente o seu número, se possível for, julgo desnecessário o concurso da oficina de composição, porque será inútil todo o seu esforço; – Lisboa 17 de novembro de 1919 – (a) Ricardo Costa – Inspetor Interino das Oficinas.

Quase me julgo, depois destas informações, que são a expressão da verdade, desobrigado de aduzir outras razões. No entanto, e porque esta resposta coincida com a minha informação, em data de ontem, acompanhando uma representação em que uma parte do pessoal deste estabelecimento reclamações a S. E.ª o Ministro do Interior contra o atual horário do trabalho, que na oficina de impressão, em virtude de serviços urgentes perfeitamente previstos no artigo 19.º do decreto n.º 6 121, de 23 de setembro último, tem ido além das duas horas autorizadas […], peço a V. Ex.ª se digne ponderar ao Ex.º Ministro que me escasseiam por completo os meios de dar cumprimentos a todas as exigências dos serviços públicos, incluindo o Congresso da República, desde que me não seja assegurado o direito de poder fazer laborar a referida oficina o tempo estritamente indispensável, e apenas para prevenir acidentes iminentes ou para obviar a um caso de força maior.
As pretensões operárias, no que elas têm de nobre e de justo, são-me sempre simpáticas e não será pelo menos com um grande fundo de justiça que se me contesta o empenho que inalteravelmente tenho manifestado com mais ou menos êxito, em melhorar a situação dos que trabalham na Imprensa Nacional; mas, por isso mesmo que em mim sou forçado a reconhecer esse empenho, o que aliás faço sem preocupação de que me atribuam uma excessiva imodéstia, considero do meu dever dizer a V. Ex.ª, para que V. Ex.ª, por sua vez, se digne transmiti-lo ao Ex.º Ministro do Interior, que mais se me afigura haver, na presente conjuntura, por parte de alguns operários da Imprensa, o receio de que o regulamento do horário de trabalho possa a vir a ser absolutamente desrespeitado pelo Estado do que propriamente uma relutância intransigente em dar andamento às várias urgências de trabalho que nos estão confiados. Seja como for, o certo é que a Imprensa, desde que não multiplique os braços que a servem e os maquinismos de que dispõe, ver-se-á na dura contingência de falhar a sua missão. […]»