“Luís Derouet
Director do Montepio Oficial
Eram do meu conhecimento, por correr voz em Lisboa, as superiores faculdades da inteligência, ilustração e trabalho que impunham o nome de Luís Carlos Guedes Derouet, director da Imprensa Nacional de Lisboa, à consideração e estima pública, mas não tinha eu a [?] fortuna de ter com ele quaisquer relações, ainda mesmo das de mero cumprimento.
Sucedeu, porém, em principios do ano de 1923, apresentar a escusa de volgal da direcção do Montepio Oficial de que eu era e sou presidente, o Ill.o Juiz Auditor do 2º Tribunal Militar Territorial, António Rodrigues de Almeida Ribeiro, e, então, julguei ser ocasião exacta, a bem daquela instituição, propor à respectiva assembleia geral, realizada no mês de Fevereiro do dito ano, o nome do director da Imprensa Nacional de Lisboa, para preencer o lugar que vagara por motivo da escusa solicitada.
E se era grande o meu desejo de ver eleito Luís Derouet vogal da direcção a que eu presidia, maior foi ainda a minha satisfação por verificar, a breve trecho, pelo nosso convívio no Montepio, de par com os seus dotes de inteligencia e ilustração, [?] os primores do seu caracter [?], os afectos carinhosos de seu coração generoso, os requintes de sua extremada delicadeza, as suas inexcediveis (p. 1) qualidades de trabalhador honesto e dedicado.
Concorrendo, pois, em Luís Derouet todos estes elevados e nobres predicados, cujas excelências a minha humilissima pena não sabe enaltecer, foi ele um auxiliar de grande valor na direcção da minha presidência para a resolução fácil dos assuntos de ponderação que eram submetidos ao seu julgamento e um cooperador da maior valia para o desenvolvimento do Montepio.
E esta sua porficua acção a exerceu Luís Derouet, ali, até 30 de Outubro de 1927, quando, por um crime hediondo prepetrado por um [?] a quem a Justiça já tomou contas, foi prostrado sem vida em plena rua da Escola Politécnica desta cidade de Lisboa.
Semelhante monstruosidade abominada, temenda crueldade, produziu em todos nós a maior indignação, o protesto de nossas consciencias revoltadas, e ninguem, certamente, pode ser indiferente ao medonho espectáculo desse doloroso dia em que a imaculada pureza do sentimento da viuva estremecida e da filha orfã idolatrada se afundou num abismo de angustia, amortalhada em crepes ensanguentados.
E esta partida de Luis Derouet tam repentinamente arrebatado ao (p. 2) convivio de todos nós, deixou também imersa em profunda saudade a grande magua a direcção do Montepio, que, nesta hora, lhe presta mais uma vez o singelo preito de leal amizade, orvalhando com lagrimas saudosas a campa ainda quente que encerra os restos do que em vida nos foi companheiro dedicado e amigo lealissimo.
E sejam estas desbotadas pétalas dos grivos de minha tristeza perpetua homenagem de minha saudade lutuosa e do Montepio Oficial, que eu represento.
Lisboa, 4 de Maio de 1928
General José Vitorino de Sousa Albuquerque (p.3)”