“(…) A desinteligência em que tenho estado com o Contador Augusto Zacarias Loforte, quase desde o dia da minha nomeação para Administrador Geral da Imprensa Nacional, chegou a ponto de ser prejudicialissima ao serviço e disciplina deste Estabelecimento.
Começou a desinteligência porque o fiz mudar de uma Casa que ele habitava, e porque verificando eu o enorme alcance em que se achavam quase todos os comissários da Imprensa Nacional na importância de rs. 7:889.618, por sua incuria e desleixo (…) reconhecendo também a sua pequena inteligência e nenhum zelo pelo serviço, o circunscrevi a escripturar os Livros da Contadora, tirando-lhe toda a ingerência na amdinistração da Imprensa.
Uma série de intrigas e de calúnias, que por grosseiras e ridiculas não referi, tem ele empregado para me desacreditar, e ao estabelecimento que o mantem, chegando a sua cegueira a pretender menoscabar-me entre os próprios empregados desta Casa. Felizmente não conseguiu nunca o seu malévolo fim, porque os factos da minha administração, que são potentes, voltam contra ele essas miseráveis invectivas. Uma calúnia porém que ultimamente espalhou contra a minha administração esgotou o meu sofrimento. Constou-me que ele, para atenuar o estado de melhoramento em que se acha a Imprensa Nacional, dizia que eu estava alcançado em muitos contos de reis. Mandei-lhe, no dia de 5 de maio último, extrair dos Livros da Contadoria a conta da receita e despesa de uma época certa, dando-lha a maior pressa, porém só no dia 28 de Junho me apresentou essa conta, gastando 54 dias com um trabalho que um empregado diligente, e de boa fé, faria em oito dias; conhecendo-se evidente que tinha a maior repugnancia em apresentar um documento, por ele assinado, que a convencia de caluniador. A conta é a que levei ao conhecimento de V. Ex. em ogício de 2 do corrente que está estampada no Diário do Governo de 7 deste mês.
Por esta ocasião devo declarar a V. E., que o mau serviço do Contador A. Z. Loforte foi reconhecido por todos os Administradores da Imprensa Nacional,, como alguns dele mo têm dito, ouvindo-o igualmente dizer ao meu irmão ; e se os meus antecessores não chegaram à completa desarmonia em que eu estou com ele, foi porque não tiveram a infelicidade de o sofrer por tanto tempo. Chamei-o repetidas vezes particularmente para o admoestar, e mesmo para o repreender, fazendo-lhe ver a irregularidade do seu procedimento, mas sem efeito; por que me parece que ele entendia a minha tolerância como fraqueza; convencendo-me finalmente que é incorrigível.
Algumas outras razões de igual ou menos peso poderia eu aduzir por provar a inconveniência deste empregado nesta Casa; mas como se referem a factos que não praticou na minha administração, abstenho-me de as produzir.
Em presença pois do que deixo dito, rogo a V. E. que se digne dar as providências que julgar convenientes.
(…) 13 de Julho de 1849
Ill.mo e Ex.mo Sr. Conde de Tomar
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino
O Administrador Geral
F. A. P. M.”
(pp. 1-4 do documento 326 – Numeração atribuída aos documentos resultam de contagem nossa, uma vez que estes só estão numerados até ao 296)