Ficha
«Acima de toda esta poeira encarvoada da política, foca-se, neste momento, para a indignação geral, o grosso escândalo da Comissão Administrativa do Congresso da República na pretensa e criminosa veleidade dum cambalacho tipográfico no edifício de S. Bento.
Não podia A Capital calar-se perante semelhante inconsciência já acoimada por aí de esplêndido negócio. E não se calou, nem se calará doa a quem doer, haja o que houver. A montagem duma tipografia privativa do Congresso é, pelo menos, um disparate, mas é também um esbanjamento, nesta hora em que, em todos os ramos administrativos do Estado, se pensa na compressão de despesas e no aumento de receitas.
Historiemos porém o caso, tal qual chegou ao nosso conhecimento. Afirma-se que, tendo a empresa do Anuário Comercial, numa das suas últimas reuniões, deliberado fechar as suas portas, o sr. dr. Nuno Simões, presidente dessa assembleia, de acordo com o sr. António Mantas secretário da Comissão Administrativa, propuseram a esta Comissão a montagem duma tipografia privativa do Congresso pela compra da do Anuário Comercial. E como isto fosse uma velha aspiração do sr. Baltasar Teixeira, primeiro secretário da Comissão Administrativa, este senhor que tudo manda no Congresso, talvez por ter ficado quatro vezes reprovado no seu exame para professor, tomou a si o encargo do negócio e apresentou à Câmara dos deputados, com urgência e dispensa do regimento! o respetivo projeto de lei. E é este projeto de lei, cujo texto já publicámos, que a Câmara vai agora à pressa e de afogadilho discutir e votar.
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Pensem um pouco nisto os senhores deputados que vão resolver o assunto. A Imprensa Nacional, podemos afirmá-lo sem receios de desmentidos, tem empatados, só nos últimos cinco meses, perto de trezentos contos em graneis que pertencem aos pareceres e aos projetos parlamentares.
Perto de trezentos contos! Não sabemos se há alguém que seja capaz de afirmar que o empate de trezentos contos de graneis se faz com cem contos de tipos?! […]
Este um aspeto da questão. Agora vejamos outro…
Diz-se que a Imprensa Nacional está atrasada nos serviços parlamentares. É certo. Mas antes de se pensar na louca pretensão de montar uma sucursal da I. N. no Congresso da República, o que era lógico que se fizesse era saber as razões desse atraso.
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Os trabalhos parlamentares eram feitos na Imprensa Nacional por um quadro de trinta homens. Esse quadro está reduzido a cinco, por falta de braços, e no último concurso que se fez para preencher essas vagas, não concorreu ninguém.
Porquê? Porque um operário gráfico ganha cá fora o dobro, ou quase, do que ganha lá dentro e ninguém se sujeita já hoje na Imprensa Nacional a horas extraordinárias. Daí o atraso dos serviços. Daí a falta de mão de obra. Mas há mais. Esse quadro, apesar de diminuto, e por ordem do falecido presidente do Ministério, foi desviado para serviços de maior urgência, como a composição dos orçamentos, do Livro Branco, e de outras publicações mais. Novos embaraços, novos atrasos. Como remediar isto? Já ontem e anteontem o dissemos. Criando na Imprensa Nacional uma secção privativa do Congresso e aumentando o vencimento ao respetivo pessoal. […]»
Nota: Continua nos números seguintes até 14 de junho de 1920.
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