Ficha
«Na sessão de anteontem da Sociedade de Estudos Pedagógicos fizeram interessantes comunicações sobre variados assuntos os Srs. Dr. Ladislau Piçarra, Dr. Sá Oliveira, Dr. Costa Sacadura, Adolfo Serra e Braga Paixão. Este último, professor do liceu de Pedro Nunes, ocupou-se do aprendizado na Imprensa Nacional. Começou por enviar para a mesa cinco relatórios das visitas de estudo realizadas pelos aprendizes daquela casa do Estado. Constituem, disse o apresentante, uma coleção interessante sob vários pontos de vista, publicada por determinação do administrador geral do referido estabelecimento, que demonstra assim o cuidado que lhe merecem não só a instrução profissional, mas também a educação geral dos aprendizes. É motivo de regozijo o poder afirmar-se que já entre nós se está fazendo uma cuidada aprendizagem no que diz respeito às artes gráficas. A Imprensa Nacional funciona, para esse fim, como escola profissional, com cursos de composição, impressão, fundição de tipos e estereotipagem, litografia, gravura e galvanoplastia. A duração dos cursos é de quatro anos, exceto o deste último que é de cinco. Os preparatórios exigidos para admissão são de molde a poder constatar‑se a atenção que merece a educação geral dos futuros gráficos. Para a entrada no curso de composição é exigido o curso da Escola Rodrigues Sampaio e exame de inglês ou alemão ou habilitações correspondentes. Para admissão nas escolas de impressão e fundição, é exigido o exame de instrução primária, e para os cursos de litografia e de gravura e galvanoplastia é necessário, além do exame de instrução primária, o do francês e o 1.º ano do curso geral de desenho da Escola de Belas Artes. Têm preferência na admissão os filhos de empregados. A frequência é limitada. O ensino está distribuído pelos vários anos dos cursos, segundo supomos. Com o fim, não somente de realizar uma educação geral, mas também de pôr o futuro operário ao facto das artes correlativas, nos últimos meses do 4.º ano os alunos de tipografia vão praticar às oficinas de composição e vice-versa. Logo dois meses depois da sua admissão os alunos recebem vencimentos, que são os seguintes: 1.º ano, 120 a 180 reis; 2.º ano, 200 a 260 reis; 3.º ano, 280 a 340 reis; 4.º ano, 360 a 400 reis. No curso de gravura e galvanoplastia, seis meses depois da sua admissão, os alunos têm direito ao vencimento de 200 reis, que pode aumentar até 500 reis. O aproveitamento é mensalmente apreciado e comunicado às famílias. Como medida de seleção, todo o aprendiz que, ao fim de seis meses, tenha manifestado inaptidão para a carreira a que se destina, perde direito à frequência. No 2.º ano é escolhido o melhor aluno para o estudo das línguas orientais. Os aprendizes têm a sua biblioteca, concernente à sua profissão. Uma parte do intervalo que o horário lhes proporciona é destinado à leitura. Constitui justificado motivo de alegria um melhoramento a constatar. Em aprendizagem está infelizmente entre nós tudo ou quase tudo por fazer. A nossa tradição quanto à preparação profissional enche-nos de tristeza. Nos cursos da Imprensa Nacional já se encara com tal atenção a educação dos futuros operários, que a saúde e a higiene dos alunos merecem um respeito especial. Mensalmente os aprendizes têm inspeção médica e está expressamente estabelecido que os seus serviços não poderão ser utilizados nem de noite nem nos dias feriados. A Imprensa Nacional merece as felicitações de todos os que se interessam pela nossa educação, quer geral, quer especial, pela atenção que dedica à preparação dos futuros operários.»