Ensino das artes gráficas.

  • Referência
    «Sobre a Imprensa Nacional — O professor Braga Paixão faz uma comunicação à Sociedade de Estudos Pedagógicos», O Mundo, n.º 4557, de 16 de maio de 1913, p. 5.
Assunto

Caracterização do ensino das artes gráficas na Imprensa Nacional.

Ficha

«Na sessão de anteontem da Sociedade de Estudos Pedagógicos fizeram interessantes comunicações sobre variados assuntos os Srs. Dr. Ladislau Piçarra, Dr. Sá Oliveira, Dr. Costa Sacadura, Adolfo Serra e Braga Paixão. Este último, professor do liceu de Pedro Nunes, ocupou-se do aprendizado na Imprensa Nacional. Começou por enviar para a mesa cinco relatórios das visitas de estudo realizadas pelos aprendizes daquela casa do Estado. Constituem, disse o apresentante, uma coleção interessante sob vários pontos de vista, publicada por determinação do administrador geral do referido estabelecimento, que demonstra assim o cuidado que lhe merecem não só a instrução profissional, mas também a educação geral dos aprendizes. É motivo de regozijo o poder afirmar-se que já entre nós se está fazendo uma cuidada aprendizagem no que diz respeito às artes gráficas. A Imprensa Nacional funciona, para esse fim, como escola profissional, com cursos de composição, impressão, fundição de tipos e estereotipagem, litografia, gravura e galvanoplastia. A duração dos cursos é de quatro anos, exceto o deste último que é de cinco. Os preparatórios exigidos para admissão são de molde a poder constatar‑se a atenção que merece a educação geral dos futuros gráficos. Para a entrada no curso de composição é exigido o curso da Escola Rodrigues Sampaio e exame de inglês ou alemão ou habilitações correspondentes. Para admissão nas escolas de impressão e fundição, é exigido o exame de instrução primária, e para os cursos de litografia e de gravura e galvanoplastia é necessário, além do exame de instrução primária, o do francês e o 1.º ano do curso geral de desenho da Escola de Belas Artes. Têm preferência na admissão os filhos de empregados. A frequência é limitada. O ensino está distribuído pelos vários anos dos cursos, segundo supomos. Com o fim, não somente de realizar uma educação geral, mas também de pôr o futuro operário ao facto das artes correlativas, nos últimos meses do 4.º ano os alunos de tipografia vão praticar às oficinas de composição e vice-versa. Logo dois meses depois da sua admissão os alunos recebem vencimentos, que são os seguintes: 1.º ano, 120 a 180 reis; 2.º ano, 200 a 260 reis; 3.º ano, 280 a 340 reis; 4.º ano, 360 a 400 reis. No curso de gravura e galvanoplastia, seis meses depois da sua admissão, os alunos têm direito ao vencimento de 200 reis, que pode aumentar até 500 reis. O aproveitamento é mensalmente apreciado e comunicado às famílias. Como medida de seleção, todo o aprendiz que, ao fim de seis meses, tenha manifestado inaptidão para a carreira a que se destina, perde direito à frequência. No 2.º ano é escolhido o melhor aluno para o estudo das línguas orientais. Os aprendizes têm a sua biblioteca, concernente à sua profissão. Uma parte do intervalo que o horário lhes proporciona é destinado à leitura. Constitui justificado motivo de alegria um melhoramento a constatar. Em aprendizagem está infelizmente entre nós tudo ou quase tudo por fazer. A nossa tradição quanto à preparação profissional enche-nos de tristeza. Nos cursos da Imprensa Nacional já se encara com tal atenção a educação dos futuros operários, que a saúde e a higiene dos alunos merecem um respeito especial. Mensalmente os aprendizes têm inspeção médica e está expressamente estabelecido que os seus serviços não poderão ser utilizados nem de noite nem nos dias feriados. A Imprensa Nacional merece as felicitações de todos os que se interessam pela nossa educação, quer geral, quer especial, pela atenção que dedica à preparação dos futuros operários.»