«Quando em 28 de maio do ano findo foi decretado o aumento de salários ao pessoal operário, mercê de reclamações do mesmo, houve, como é do conhecimento de V.Exa., a dentro do estabelecimento, um período de anormalidade do qual resultou terem decorrido os estudos para a efetivação desse aumento um pouco tumultuariamente. Impunha-se, é certo, que após a publicação do citado decreto, fossem estudadas e remodeladas as tabelas de preços, mas, como tal não fosse possível fazer-se desde logo, previdentemente e enquanto não fosse superiormente providenciado nesse sentido, julguei que elevando como se fez 60 por cento na tabela de composição, 40 por cento na brochura e encadernação, 50 por cento na da impressão, se equilibraria, transitoriamente, o agravamento da despesa. A razão deste critério para a elevação em 40 por cento das tabelas de encadernação e brochura, assentou em que essa percentagem incide no preço global dos trabalhos, isto é, no material a empregar e na mão-de-obra, quando aquele, embora hoje caríssimo, entra sempre no preço da tabela em relação ao custo de momento; daí, a cota de percentagem, incidindo globalmente, ser em relação à mão de obra, muito superior ao que a mesma subiu. Quanto aos 50 por cento na da impressão, obedeceu, em parte, a igual juízo. Isto é, estando a antiga tabela organizada de forma a que, além da mão-de-obra, fossem pagas a depreciação do maquinismo, os materiais a empregar e o lucro de oficina, essa percentagem equilibraria, ainda com resultado, o agravamento dos salários. Em reforço deste modo de ver estava a esperança, que os factos demonstram ter sido ingénua, de que o pessoal procuraria melhorar a produção em face da mais equitativa paga. Tal porém não se deu, estando até averiguado que ela decresceu sensivelmente.
Julgo também que o atual preço de venda do tipo, apesar dos vários aumentos que ultimamente sofreu, não estará suficientemente elevado a ponto de cobrir o agravamento dos salários da oficina de fundição.
Pelo exposto reconhecerá V. Ex.ª que as providências adotadas de ocasião assentaram, tanto quanto possível, atentas as circunstâncias e carência de elementos de estudo, de tempo e da urgência que se impunha, em bases mais ou menos seguras, mas que só uma análise ponderada e minuciosa poderia, como agora, demonstrar a sua falibidade.
Do ligeiro estudo a que procedeu o Exm.º Secretário, parece ressaltar a necessidade imediata de aumentar a tabela da impressão mecânica e talvez anda a própria percentagem geral sobre composição e impressão, atualmente de 60 por cento.
É este, porém, um assunto de tal transcendência e importância que demanda um largo e cuidadoso estudo, razão por que ouso lembrar a V Ex.ª que a sua solução seja submetida ao parecer de uma comissão presidida pelo Ex.mo Secretário.»
[inclui despacho manuscrito de Luís Derouet:]
«Concordo com o exposto neste ofício, Os Srs. Secretário, Inspetor das Oficinas, Chefe dos Serviços Tipográficos, chefe de impressão e Escriturário Raul Leal deverão, no mais curto prazo, reunir-se, a fim de estudarem o assunto e proporem o que for julgado conveniente. L. Derouet 26-I-1920»