Texto: Diogo Vaz Pinto
Rui Lage encerra com Estrada Nacional um ciclo poético que das paisagens rurais faz o túmulo doce de um certo país a que dissemos adeus.
O triunfo desta poesia está no golpe nos rins, mais do que no golpe de asa, pelo modo como nos habitua, como os seus primeiros passos envenenam as expectativas que tivéssemos e as leva a enterrar, para não fazer de ânsias o seu caminho. Para que não lhe perguntem sempre se já chegámos, se é isto a poesia. Pode ser, logo vemos, mas há mais coisas neste mundo que merecem atenção. E mostrando que a coisa aqui se faz, um pouco como insistiu João Cabral de Melo Neto, que a música pode ficar calada, o silêncio também tem gradações, até ritmos, também faz o ouvido: «Eu vi que era possível escrever uma poesia áspera (…) uma poesia que não embalasse o leitor, uma que não fosse um carro a deslizar num pavimento de asfalto, aquela coisa lisa, mas que o leitor – que é carro – passasse em cima de uma rua mal calcetada, em que o carro fosse sacolejado a todo o momento. Uma poesia em que o leitor ao passar de uma palavra para a outra tivesse que pensar».
Pressente-se a morte por desgaste e desgosto de uma poesia que se deixou tolher rente a um registo biográfico, e condescente nisso. De novo emerge um enorme cansaço de toda a moleza que se dobra em sarcasmos. Há um desejo de mais que agressão, ultrapassagem face a uma realidade que cada vez mais embosca, apouca, garante que não há outra via.
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Disponível nas lojas INCM:

Rui Lage
Estrada Nacional
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
2016