A Imprensa Nacional assegura, até ao momento, quatro coleções de edições críticas: «Edição Crítica das Obras de Almeida Garrett», «Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós», «Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa» e a «Edição Crítica das Obras de Camilo Castelo Branco». Contam, todas elas, com grupos de investigadores e académicos de prestígio e renome, oriundos de várias instituições e nacionalidades. O processo de disponibilização digital destas coleções é, compreensivelmente, um process lento, caro e complexo. Por isso, será um processo progressivo e faseado. Os textos começam a ser disponibilizados primeiro apenas para descarga e leitura e, posteriormente, serão fixadas as regras para utilizações distintas. Todo este processo é feito com a concordância total dos responsáveis pela fixação dos textos.
A semana passada ficaram disponíveis para descarga e leitura gratuitas os títulos Amor de Perdição e O Regicida, da «Edição Crítica das Obras de Camilo Castelo Branco», uma coleção que tem atualmente 8 volumes publicados. A coleção é coordenada pelo académico Ivo Castro, da Faculdade de Letras de Lisboa, e conta com um vasto leque de investigadores.
Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX e é considerado por muitos o representante típico do Ultra Romantismo português. Romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor, foi de facto um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa, sendo também um dos primeiros escritores portugueses a viver exclusivamente da sua escrita. Por volta dos anos de 1880 não havia escritor mais famoso e celebrado em Portugal do que Camilo Castelo Branco, tendo, aliás, a Academia Real das Ciências de Lisboa chegado a prestar-lhe uma homenagem. Com uma biografia tão rica e atribulada quanto a sua bibliografia, recebeu, em 1885, do rei D. Luís I o título de 1.º Visconde de Correia Botelho. Camilo Castelo Branco contava então com 60 anos.
A primeira edição de O Demónio do Ouro é da livraria editora de Mattos Moreira, de 1873.
A obra encontra-se dividida em duas partes. A primeira passa-se na segunda metade do século XVIII, e a segunda no início do século XIX. E se aparentemente este «romance original», como lhe chama Camilo, parece inspirado pelos modelos do nacionalismo de Walter Scott e pelas aventuras de Alexandre Dumas e Ponson du Terrail, numa leitura mais cuidada percebemos que Camilo Castelo Branco questiona esses mesmos modelos, sugerindo um outro tipo de romance histórico.
Segundo Abel Barros Baptista, O Demónio do Ouro é um romance concebido em dois andamentos: um ascendente e otimista, em que vinga o mérito da virtude e do trabalho, e outro descendente e pessimista, em que o fruto do mérito corrompe e mata. Nas palavras deste camiliano trata-se de: «Uma herança de 3 milhões e 800 herdeiros; sentimentalismo, virtude e acumulação de capital; encontros e lances improváveis; Inconfidência Mineira, invasões francesas, lutas liberais; traições e homicídios, desejo e vingança e, como sempre, profusão de filhos naturais e muitos padres. […] O demónio é antes o do folhetim!»
O presente volume conta com edição de Cristina Sobral.
Boas leituras!