
in E | Expresso, 03.12.2016
E os textos enchem-se de paisagens portuguesas e de versos portugueses, geralmente postos de pernas para o ar: o poema «ensina a estar em pé» em vez de ensinar «a cair», o «desejo absurdo de sofrer» passa a um «desejo absurdo de nenhum sofrer», e o «transforma-se o amador na cousa amada» assume contextos mais quotidianos, de modo que um «muda-se o amador» diz respeito a uma trivial mudança de casa. Sophia, Eugénio e Gastão são interlocutores constantes, como se a poesia brasileira e a portuguesa voltassem a ser íntimas, como foram num passado não muito distante.
(…)
A variedade de motivos usados faz de Eucanaã Ferraz o menos previsível dos poetas.
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«O que serei de mim quando sair de cena / o mágico? Que restará do encanto? / Há de ficar a música de quando? / Algum espinho? Um ás? O espanto?»
Pedro Mexia,
in E | Expresso, 03.12.2016
Eucanaã Ferraz
Poesia (1990-2016)
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
2016
618 pp.