Médico apenas de nome, António Amaro Cirurgião nasceu na linha da fronteira com Espanha, na pequena localidade de Soutelinho da Raia (Chaves), a 12 de abril de 1933. Filho de Delfina Pires Amaro e Francisco Joaquim Cirurgião, estudou humanidades, filosofia e teologia no Seminário Salesiano, e Direito na Universidade de Lisboa. Viajou pela Bolívia, Argentina, Marrocos, Angola e Moçambique, mas foi nos Estados Unidos que se fixou a partir de 1962, adquirindo a nacionalidade americana em 1967.
No lado de lá do Atlântico, fez um mestrado em Francês e, posteriormente, um doutoramento em Espanhol e Português na Universidade de Wisconsin, sendo aluno dileto de Jorge de Sena. Deu aulas em algumas universidades, nomeadamente na de Connecticut, em Storrs, onde foi promovido a professor catedrático em 1980 e jubilado em 1999.
Mas se o seu percurso se faz do tanto que aprendeu e ensinou, viajou e escreveu, faz-se igualmente da sua capacidade de contar histórias, onde é muitas vezes o protagonista, mas onde os outros, que foi conhecendo e de cujas obras se foi deleitando, ganham igualmente contornos de personagens principais.
Os que já tiveram o prazer de o acompanhar, sabem que são inúmeras as histórias sobre o seu nome. Afinal, “Cirurgião” não é um apelido comum, embora – e segundo investigações do próprio – já tenha raízes tão profundas quanto o séc. XVI. O humor refinado com que pincela a sua prosa transparece nas páginas de Memórias Pessoais, a sua obra mais recente, onde fala de Amália, Camões e Pessoa, assim como Jorge de Sena, Marcelo Caetano e Eusébio.
Ao longo dos anos, publicou Fernão Álvares do Oriente: o homem e a obra, O «olhar esfíngico» da Mensagem de Fernando Pessoa, Novas leituras dos clássicos portugueses, Leituras alegóricas de Camões, entre muitas outras obras, onde a qualidade técnica se associa a uma riqueza linguística, fruto da sua sensibilidade atenta sobre os outros e de um humor espirituoso que aqueles de quem se rodeia podem confirmar.
Em 1981 foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa, General Ramalho Eanes, com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Embora mantenha ligação à família portuguesa, que vive no Porto, António Cirurgião continua a viver nos Estados Unidos, usufruindo da presença dos seus netos, que carregam o mesmo apelido do avô.
Com a Imprensa Nacional publicou:
Memórias Pessoais
Leituras Alegóricas de Camões e Outros Estudos de Literatura Portuguesa
De Eça a Jorge de Sena