Baseado num amplo conjunto de materiais apresentados em suporte escrito e visual, incluindo historiografia, correspondência, teatro, poesia, ficção e cinema, A Diáspora em Língua Portuguesa constitui a primeira análise detalhada das diferentes e por vezes incompatíveis produções culturais da diáspora imperial no seu apogeu, oferecendo um contexto importante para a compreensão da complexa cultura de viagens e de deslocação por parte das populações das antigas colónias para as suas atuais «pátrias».
Entre os vários temas do livro, Darlene J. Sadlier analisa os movimentos de exploração e colonização levados a cabo pelos Portugueses nas diferentes partes do império; aprofunda igualmente o comércio de escravos no Atlântico, bem como o regresso das populações a Portugal no rescaldo da independência africana.
Este é um livro sobre viagens a cantos remotos do mundo, em que os viajantes descobrem novos povos e paisagens, experienciam mudanças de identidade e contudo não deixam de ansiar pelos lugares que deixaram para trás. Consiste na descrição de uma tentativa de conquistar o mundo, mas também nas dificuldades, crueldades e migrações forçadas que resultaram dessa mesma tentativa. Com uma abordagem interdisciplinar, este livro atravessa sete séculos e vários continentes, abrangendo obras literárias e artísticas relacionadas com a diáspora.
«(…) Muito antes da atual economia da globalização, os portugueses criaram um vasto império que abrangia o Brasil e territórios do Médio Atlântico, bem como partes de África, da Índia, da China, do Sudeste Asiático e do Japão. Principiando com o cerco de Ceuta, no Norte de África, em 1415, começou a ganhar forma uma diáspora ainda incipiente, à medida que marinheiros, comerciantes e aventureiros, bem como criminosos e outros «indesejados» começaram a sair de Portugal, na sua maioria movidos pela esperança de melhores condições de vida. Estas expectativas foram sendo nutridas através de cartas, relatos pessoais, relatos oficiais e outros documentos, frequentemente ilustrados, que faziam o elogio constante da beleza e da riqueza que podiam ser encontradas nas novas terras. A diáspora incluía também padres jesuítas que viajavam extensamente com o intuito de estabelecerem missões em conformidade com o Tratado de Tordesilhas (1494), uma bula papal que dividia o mundo não cristão entre Espanha e Portugal com o objetivo de reivindicar territórios e converter os habitantes locais.
Por fim, os custos da expansão ultramarina e a perda gradual de rotas de comércio e economias de mercado em favor dos holandeses e dos britânicos levaram ao declínio do império, ainda que os esforços no sentido da colonização tivessem continuado, juntamente com o tráfico de escravos africanos no Atlântico – um empreendimento atroz e aparentemente infindável que os portugueses iniciaram no século xv. No seguimento da independência do Brasil, em 1822, e ao longo do século xix e de grande parte do século xx, a estabilidade da economia portuguesa dependia largamente da emigração e de remessas enviadas das antigas colónias e das restantes províncias ultramarinas.
Por razões políticas e económicas, as migrações ocorreram também na direção oposta, isto é, das antigas colónias para Portugal, especialmente depois da revolução portuguesa do 25 de Abril de 1974, e uma outra vez, mais tarde, quando Portugal passou a integrar a União Europeia, em 1986. O empreendimento global de Portugal foi o primeiro e o mais duradouro de todos os que foram tentados pelas nações europeias modernas, tendo durado até 1999, altura em que Portugal renunciou ao controlo de Macau em favor dos chineses.
Segundo o The Oxford English Dictionary, a palavra diaspora, significa «dispersão», tendo origem no termo grego «diaspeirein», que significa «espalhar» ou «dispersar». A palavra é geralmente usada para designar dispersões de grupos específicos de pessoas. Na Bíblia, vem referida a diáspora de judeus helénicos e a diáspora de judeus cristãos fora da Palestina, mas é também habitual usar‑se diáspora para descrever a dispersão de todos os géneros de populações, como é o caso da diáspora negra oriunda do Sul rumo a Chicago ou Los Angeles. As diásporas ou dispersões que discuto neste livro são as que se relacionam com os grupos de falantes da língua portuguesa que se foram disseminando um pouco por todos os territórios que outrora formaram o império português. (…)»
O presente livro representa uma contribuição da maior importância para a área em crescente desenvolvimento dos estudos lusófonos, cuja tradução para português ficou a cargo de Frederico Pedreira.
A autora, Darlene J. Sadlier, é Professora Emérita no Departamento de Espanhol e Português na Universidade de Indiana-Bloomington. Os seus livros e artigos analisam diferentes aspetos da literatura e cultura lusófonas.
Entre os seus livros constam os seguintes títulos: The Question of How: Women Writers and New Portuguese Literature, An Introduction to Fernando Pessoa: Modernism and the Paradoxes of Authorship,Brazil Imagined: 1500 to the Present (traduzido para português como Brasil Imaginado: de 1500 até ao Presente) e Americans All: Good Neighbor Cultural Diplomacy in World War II. Outras das suas obras focalizam o cinema, como Nelson Pereira dos Santos e a coletânea Latin American Melodrama: Passion, Pathos and Entertainment. Um novo livro sobre objetos na Lilly Library será lançado durante o bicentenário da Universidade de Indiana. Atualmente encontra-se a escrever uma história sobre o documentário brasileiro.
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