Foi há dezassete anos que as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, entraram em colapso, caindo com elas 2753 vidas humanas. Desde esse dia, a vida nos Estados Unidos da América mudou. E no mundo também. Para assinalar a data recordamos aqui um pequeno excerto do ensaio de Edgar Morin, intitulado «Compreender o mundo que aí vem» que integra a obra Como Viver em Tempo de Crise?, publicada pela Imprensa Nacional em 2011.
«Cada provocação de Bush favorecia a provocação de Ahmadinejad. Era o mais grandioso destes maniqueísmos opostos: segundo a visão ocidental, um império do Bem contra a Al-Quaeda, império do Mal; segundo a visão inversa (a de Al-Quaeda), o império do Bem contra os infiéis ocidentais. A luta de dois impérios do Bem impossibilita a compreensão mútua.
Trata-se pois de uma condição prévia: se não tivermos essas múltiplas sensibilidades à ambiguidade, à ambivalência (ou à contradição), à complexidade, estamos muito incapacitados para compreender o sentido dos acontecimentos. A compreensão humana comporta não só a compreensão da complexidade do ser humano, como a das condições em que se moldam mentalidades e se exercem acções. As situações são determinantes, como mostram as circunstâncias de guerra em que podem efectivar-se as mais odiosas virtualidades. Os terroristas vivem, de certo modo, uma ideologia de guerra em tempo de paz.»
Como Viver em Tempo de Crise
Edgar Morin e Patrick Viveret
Olhares
Agosto de 2011
pp. 64
COMO VIVER EM TEMPO DE CRISE?
Perante a crise que atravessamos, devemos distanciar-nos, reposicionar este momento no quadro mais amplo das grandes mutações que já conhecemos, apreender este ciclo que acaba e a nova ordem que se abre diante de nós. Neste período crítico em que os desafios são cruciais e em que o pior é possível, nunca devemos olvidar que o improvável pode sempre acontecer.
Mesmo quando tudo concorre para a catástrofe, a complexidade do real pode gerar situações inesperadas. Mantenhamo-nos prontos a acolher o improvável, mantenhamo‑nos atentos à utilização positiva desta crise, vejamo-la como uma oportunidade para uma nova relação com o poder democrático, com a riqueza monetária e, por fim, com o sentido.
EDGAR MORIN:
Director emérito de investigação no CNRS, Edgar Morin é doutor honoris causa de várias universidades através do mundo. O seu trabalho exerce uma notável influência sobre a reflexão contemporânea, nomeadamente a sua obra fundamental, O Método, publicada em seis volumes.
PATRICK VIVERET, filósofo, foi conselheiro no Tribunal de Contas. Encarregado pelo governo Jospin de uma missão destinada a redefinir os indicadores de riqueza é, nomeadamente, o autor de Réconsidérer la Richesse (Éditions de l’Aube) e de Pourquoi ça ne vas pas plus mal? (Fayard).