Ao serviço do conhecimento, a Biblioteca da Imprensa Nacional é aberta a todos os cidadãos e disponibiliza um património que ascende a mais de 20 000 volumes, incluindo o jornal oficial, atualmente designado Diário da República. Pela sua diversidade temática e pela natureza das suas coleções, a Biblioteca destina-se ao público em geral mas também a investigadores de diversas áreas disciplinares.
O seu acervo inclui uma parte importante da produção editorial da Imprensa Nacional, desde 1769, a par de coleções resultantes de doações e aquisições. Considerando a sua vocação historicamente ligada ao ensino das artes gráficas, a Biblioteca também integra uma coleção de livros técnicos, como catálogos de tipos, manuais de ensino e produção gráfica com especial interesse para um público especializado em design e artes gráficas. Somam-se ainda valiosas raridades bibliográficas, com especial interesse para a investigação, incluindo três incunábulos e alguns manuscritos, além de uma coleção camoniana que compreende estudos camonianos e várias edições de Os Lusíadas em diversas línguas, formatos e materiais. Este património também compreende uma importante coleção iconográfica da Imprensa Nacional, incluindo provas de impressão e revisão, trabalhos da escola tipográfica, maquetes, fotografias e produção artística, entre outros materiais de interesse histórico e gráfico.
Nos últimos anos, a Biblioteca afirmou a sua missão enquanto agente de cultura da cidade de Lisboa, promovendo, em acesso livre e gratuito, a realização de temporadas de música e de teatro, apresentações de livros, exposições e colóquios.
Serviços
Apoio à pesquisa, consulta presencial, telefónica e por correio eletrónico, e venda e autenticação de fotocópias do Diário da República.
Acesso wi-fi livre.
História
A criação da Biblioteca da Imprensa Nacional-Casa da Moeda foi prevista desde logo pelo Alvará, de 24 de dezembro de 1768, que fez constituir a Impressão Régia, atual Imprensa Nacional.
O primeiro grande impulso dado a esta biblioteca verificou-se entre 1804 e 1806, com a integração de mais de 500 edições estrangeiras provenientes da Loja da Praça do Comércio e da antiga Casa Literária do Arco do Cego, compradas a livreiros como João Baptista Reycend. Alguns anos mais tarde, em 1812, era já referida a existência de uma «grande livraria», com mais de 1000 títulos de obras datadas de 1524 a 1808.
Este processo de crescimento sofreu, no entanto, perdas significativas após as invasões francesas. Entre abril e maio de 1826, cerca de metade do seu património foi remetida para a Biblioteca da Ajuda, então em processo de reconstituição após o regresso do rei D. João VI do Brasil. A preocupação em enriquecer o acervo bibliográfico evidenciou-se em 1839, quando a administração deu conta ao ministro do Reino da pequena biblioteca aí existente, contendo «excelentes edições de clássicos tanto Portugueses, como Gregos e Latinos», mas lamentando o volume considerável que alguns anos antes tinha sido transferido para a biblioteca do Palácio Real da Ajuda. Procurava-se, então, reverter a situação da Biblioteca, completando-a com novas coleções junto do Depósito Geral das Livrarias, de forma a compor uma «Livraria que pode ser de grande utilidade, e bem que pequena não deixará de ser interessante pela escolha e classificação dos Livros.». No mesmo sentido de valorização cultural, o administrador Frederico Marecos procurou completar estas perdas com edições como a Gazeta de Lisboa, editada desde 1715, recorrendo para isso aos números duplicados da Biblioteca Pública de Lisboa.
A partir desta altura, a Biblioteca foi crescendo, quer através da incorporação das edições próprias da Imprensa Nacional quer através de doações e aquisições, como leilões e desmembramentos de bibliotecas particulares, das quais resultou a integração dos três incunábulos ainda existentes e de numerosas obras de edição portuguesa dos séculos xvı, xvıı e xvııı.
Por ocasião dos centenários de Camões, em 1880, foi também estimulada uma maior vocação cultural que passou pela abertura da Biblioteca ao estudo e exame dos empregados, artistas e operários da Imprensa Nacional bem como aos sócios da Associação Tipográfica Lisbonense. Nesta altura, entre várias trocas bibliográficas, Teófilo Braga ofereceu um exemplar da Bibliografia Camoniana, contribuindo para o enriquecimento que se verificava nos últimos anos.
Procurando dar uma continuidade aos esforços desenvolvidos pelos irmãos Frederico e Firmo Marecos, o administrador Venâncio Deslandes procurou retomar a integração dos exemplares de obras dos séculos xv e xvı, solicitados à Biblioteca Nacional. Embora nos últimos anos a Biblioteca da Imprensa Nacional tivesse visto o seu acervo enriquecido com várias obras valiosas, continuava a ser necessário aumentar o seu inventário com obras «dos primeiros séculos da tipografia». Nesse sentido, foram também pedidos ao Asilo D. Maria Pia três códices manuscritos, com iluminuras dos séculos xv e xvı, que podiam servir na Imprensa Nacional para o estudo dos seus artistas, enriquecendo, por um lado, a «preciosa coleção de manuscritos das artes gráficas» e constituindo, por outro, um importante contributo para os progressos nos processos de cromolitografia e de cromotipografia nas oficinas da Imprensa Nacional.
Na viragem para o século xx, e com a construção do novo edifício da Imprensa Nacional, onde ainda hoje se encontra instalada, a Biblioteca conheceu novas instalações. Até então localizava-se no andar nobre do velho Palácio Soares de Noronha, virado para a Rua da Imprensa Nacional.
A criação de uma nova Biblioteca deveu-se sobretudo à iniciativa de Luís Derouet, diretor‑geral da Imprensa Nacional entre 1910 e 1927. A responsabilidade foi entregue ao antigo tipógrafo José Maria Gonçalves e o respetivo desenho e construção atribuídos aos artistas João Simões e Artur Martins dos Santos, sob a fiscalização do encarregado da Oficina de Carpintaria, em dezembro de 1921, para que se executasse «o trabalho da primeira estante, dentro do plano e do orçamento apresentados». No final de setembro de 1922, começaram a abrir-se finalmente os mais de 100 caixotes que, entre volumes e folhetos, reuniam perto de 40 mil volumes. José Maria Gonçalves recordaria mais tarde que «toda esta multidão de livros estava arrumada em 3 de outubro de 1923», data em que a nova Biblioteca foi inaugurada oficialmente com a presença do Presidente da República, António José de Almeida, cujo nome foi atribuído à nova sala.
Devidamente renovada, a Biblioteca da Imprensa Nacional assumiu, assim, a missão de «guardar e conservar todas as obras literárias, artísticas ou históricas, impressas na mesma Imprensa, as respeitantes às artes gráficas, tanto nacionais como estrangeiras, e ainda quaisquer outras que lhe sejam oferecidas ou se repute conveniente adquirir», devendo também contribuir para a organização da «bibliografia gráfica portuguesa». Ou seja, assumiu, à semelhança do que tinha sido preconizado em administrações anteriores, a vocação de promover o conhecimento e estudo das artes gráficas, disponibilizando a bibliografia necessária. À coleção bibliográfica reunida desde a criação da Impressão Régia, acrescentaram-se novas doações de volumes de poesia, história, saúde, dicionários e coleções de imprensa periódica. Numa primeira fase, e perante esta diversidade de coleções e áreas de especialidades, foram organizados catálogos gerais e especiais — estes últimos relativos a «incunábulos, reservados e manuscritos», «obras clássicas portuguesas», «camoniano» (entretanto impresso) e «gráfico».
Em julho de 1924, a sala foi oficialmente aberta ao público, registando 86 visitas nos primeiros seis meses, numa afluência inicialmente marcada pela curiosidade, mas com crescimento considerável nos anos seguintes.
Mas a sua função não se esgotava na consulta bibliográfica. Na verdade, e como se registou numa das suas memórias, a Biblioteca, «a par com o seu destino próprio, serviu de sede de algumas das exposições […] e de sala de conferências» — missão que, de resto, reafirma atualmente, oferecendo concertos, seminários, lançamentos de livros e outras atividades de acesso livre. Nestes primeiros anos, abriu portas a eventos de caráter público e cultural, como a Exposição Camoniana, realizada em junho de 1924 por ocasião do centenário de Camões e a exposição bibliográfica comemorativa do IV centenário de Vasco da Gama, em 1925 e que reuniu 193 obras, das quais 74 pertenciam à Imprensa Nacional.
Durante o Estado Novo o principal desafio da Biblioteca passou pela resposta ao crescente número de consultas ao Diário do Governo e às coleções de legislação, levando à especialização do atendimento. Refira-se que, a partir de 1940 e durante vários anos, a Biblioteca esteve a cargo do ensaísta e historiador João Gaspar Simões.
Passados mais de dois séculos e meio, a Biblioteca da Imprensa Nacional continua a crescer, alargando a sua relação com o público, assegurando a sua missão ao serviço da cultura.