É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Os versos, dos mais belos da poesia portuguesa do século xx, são do poema «Urgentemente», de Eugénio de Andrade, publicados pela primeira vez em Até Amanhā, obra de 1956.
Eugénio de Andrade, nasceu com o nome de José Fontinhas, na Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia da Beira Baixa pertencente ao concelho do Fundão, a 19 de janeiro de 1923. O poeta Eugénio de Andrade nasceria três anos depois da publicação do seu primeiro poema «Narciso», aquando da edição de: Adolescente, a sua primeira coletânea de poemas de 1942. Mas foi com as As mãos e os Frutos, de 1948, que Eugénio de Andrade seria catapultado para o sucesso das letras. O rigor íntegro da escrita aliado à musicalidade e à leveza das palavras marcariam a sua poesia.
Funcionário público (dos quadros do Ministério da Saúde) durante mais de 35 anos, Andrade publicou dezenas de livros de poesia e também obras em prosa, antologias e livros para crianças.
Foi também um grande tradutor: traduziu para português poetas como Lorca, Safo, Char, Reverdy, Ritsos, Borges…
Também as suas obras se encontram traduzidas em cerca de 20 línguas, o que faz dele um dos poetas portugueses mais traduzidos muito fora. E também um dos mais estudados.
Entre outras distinções foi-lhe atribuído o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada e a Grã-Cruz da Ordem de Mérito, o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários, o Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Camões, em 2001. Em 2003, a sua obra «Os Sulcos da Sede» recebeu o Prémio de Poesia do Pen Clube Português.
Eugénio de Andrade, morreu no Porto – cidade para onde se mudou por razões profissionais – num dia de Santo António, a 13 de junho de 2005.
Em 1987 a Imprensa Nacional, pela mão de Luís Miguel Nava, publicou O Essencial sobre Eugénio de Andrade, onde em 64 páginas se traça, em linhas abreviadas, a vida e a obra deste enorme poeta português. Aqui um pequeno excerto:
«O tacto e o gosto são, pois, os privilegiados sentidos na obra de Eugénio de Andrade, embora um tal facto à primeira vista possa passar despercebido, de tal modo o ouvido e a vista aqui se lhes parecem sobrepor.
‘Rumor’ e ‘música’, por um lado, e ‘claridade’ e ‘luz’, por outro, são palavras que se contam por entre as mais comuns no universo desta escrita, assinalando – e como sinais por nós devem ser encaradas – o excesso que certas coisas, aprendidas embora o mais das vezes pelo tacto e pelo gosto, se afiguram carregadas.» (p. 31)
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