A coleção «Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa» acaba de receber mais um título: Húmus, de Raul Brandão. Esta edição conta com Introdução e Nota Bibliográfica de Maria João Reynaud e coordenação de Carlos Reis.
Escreve Carlos Reis na «Nota Prévia»:
Edita‑se agora, na Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa, Húmus, de Raul Brandão. Publicado pela primeira vez há pouco mais de um século (mais precisamente em 1917), este singular texto ocupa um lugar de exceção na nossa literatura, de tal modo que, ainda há não muito tempo, um painel de ensaístas e críticos literários designado por uma revista cultural integrou Húmus no seleto conjunto dos 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos. Valendo o que valem estas classificações, ela não deixa de sublinhar o que há muito é reconhecido: Húmus representou, no seu tempo e depois dele, um caso notável de inovação formal, numa época já de si muito marcada por uma forte dinâmica de modernidade, na aceção mais estrita e exigente do termo.
Carlos Reis na «Nota Prévia»
Raul Brandão nasceu na Foz do Douro, a 12 de março de 1867, e morreu em Lisboa a 5 de dezembro de 1930. Foi portanto contemporâneo de António Nobre, de Camilo Pessanha, de Mendes dos Remédios, do músico e maestro Francisco Lacerda — o que quer dizer que o devemos considerar pertencente à Geração de 90, que assumiu uma reação idealista e antipositivista, na qual se radicam o Simbolismo e o Impressionismo. Contemporâneo também de grandes escritores estrangeiros — como Unamuno (1864), Valle-Inclán (1866), Romain Rolland (1866) ou Luigi Pirandello (1867) —, Raul Brandão rompeu com as conceções literárias vigentes no seu tempo, em nome da liberdade reclamada pela vocação indagadora de uma arte singularmente atenta à crise de valores que então se vive e à injustiça social.
Neste enigmático Húmus, espécie de diário escrito ao longo de um ano, há que assinalar também as influências não só do autor dos Irmãos Karamazov como de Kafka, de Camus e de Sartre. Esta é também a obra na qual Brandão mais carrega com o peso do espanto.
Húmus (1917), a obra‑prima de Raul Brandão, assumiu um papel crucial na história da ficção portuguesa da segunda metade do século xx. É um livro que veio pôr em causa, de modo irreversível, a estrutura do romance tradicional, antecipando as experiências mais radicais efetuadas no âmbito da narrativa contemporânea, inclusive as mais recentes. E que, por se projetar muito para além do horizonte estético do seu tempo, nem sempre beneficiou de uma receção crítica que estivesse à altura de o julgar, apesar da sua assinalável repercussão num meio literário restrito. Publicado há mais de um século, o Húmus tornou‑se uma obra clássica, pela força imaginativa do seu autor e pela permanente atualidade temática.
Maria João Reynaud in «Introdução»
Além desta sua magnum opus, Raul Brandão publicou contos, livros de viagens, peças de teatro, memórias e estudos históricos. Entre as suas obras avultam títulos como: Os Pobres, Memórias em três volumes, Os Pescadores, O Pobre de Pedir, e as peças de teatro O Gebo e a Sombra e O Doido e a Morte. Muitas obras seriam dignas de menção, como A Farsa, El-Rei Junot, A Conspiração de Gomes Freire, O Rei Imaginário, O Avejão ou As Ilhas Desconhecidas. Aliás, na obra de Raúl Brandão podemos distinguir duas facetas. Uma é a do escritor de viagens e paisagens, da luz e da cor, do azul que predomina e que Raul Brandão ama acima de todas as cores.
A Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa conta com coordenação de Carlos Reis e com textos introdutórios de grandes especialistas nas obras publicadas e obedece a um propósito claro: acolher, de forma criteriosa, um conjunto alargado de textos nucleares da Literatura Portuguesa, enquadrados do ponto de vista editorial por elementos de apoio à leitura.
Saiba mais detalhes sobre este título aqui: https://imprensanacional.pt/edicoes/humus/