Apoiado em vastíssimo material arqueológico, antropológico e histórico, A Enxada e a Lança. A África antes dos Portugueses, de Alberto da Costa e Silva, um dos mais importantes intelectuais brasileiros, especialista na cultura e na história da África e Prémio Camões 2014, é um dos clássicos contemporâneos mais importantes dos estudos africanos. Está agora publicado, pela Imprensa Nacional, em dois tomos (dada a sua dimensão e para facilitar a leitura), na coleção «Olhares», uma coleção que a editora pública dedica ao género Ensaio.
«Uma obra monumental, de fôlego e ambição a que poucos autores se arriscariam», como escreve Laurentino Gomes na apresentação do livro.
A Enxada e a Lança teve a sua primeira edição em 1992, no Rio de Janeiro, e é um livro que Alberto da Costa e Silva escreveu com «rigor e paixão. Sem concessões a teses da moda e a fantasias generosas. Mas com entusiasmo por uma história que por tanto tempo foi negada, e na qual se desenham muitas das mais importantes raízes do que somos como povo», conforme explica o próprio no prefácio que escreveu para a 3.ª edição de A Enxada e a Lança (reproduzido nesta edição).
Este livro representa um raro desafio. Começa na pré-história do continente africano, que se confunde com a própria pré-história do homem, e termina em 1500, época em que muitos outros livros de história começam. Somente uma frase, a última, depois de mais de mil páginas permite antever o início da era moderna, mais próxima e mais conhecida: «Não se estranhará, por isso, que os congos, e talvez outros povos antes deles, confundissem com baleias as formas bojudas que se aproximavam de suas costas e traziam os portugueses». Antes desta, leia-se sobre povos e etnias, técnicas agrícolas e de navegação, expressões religiosas e artísticas, reinos extintos, cidades desaparecidas, costumes e crenças, línguas e dialetos, tratando sempre da África negra. In Contracapa
Diplomata, ensaísta, poeta e historiador Alberto da Costa e Silva compôs um panorama grandioso e erudito para desvendar a aventura dos seres humanos no continente que, segundo todas as evidências reunidas até agora pela ciência, lhe deu origem. Para o escritor a cultura africana é um alicerce da cultura brasileira, que também se reflete no modo de vida africano.
Conhecer a história da África nos faz melhores. Enriquece a consciência de nosso passado. Soma-se aos enredos europeus, que sempre estiveram nos currículos de nossas escolas, e aos ameríndios, que neles deveriam estar, e abre nossa alma a outras memórias. Se aprendemos na escola, com pormenores, o que se passou em Atenas e na Roma antigas, por que descurarmos de Axum, de Songai e de Ifé? Escrevi A enxada e a lança, mas hoje sou um de seus leitores. Volto ao livro sempre que me falha a memória ou em mim ressurge alguma dúvida. Se o meu texto não a esclarece, é raro que as obras citadas em nota não o façam. Deduzo do que se passa comigo que produzi um livro útil. E útil principalmente depois que se tornou obrigatório, nos cursos fundamental e médio, o estudo da história da África e dos africanos e seus descendentes no Brasil, pois não são muitas as obras sobre a África antiga publicadas em nosso país. In A Enxada e a Lança
Alberto da Costa e Silva
Alberto da Costa e Silva foi diplomata e depois embaixador do Brasil em Portugal (1960‑1963 e 1986-1990). Serviu nos continentes africano, europeu e americano, e é um dos mais reconhecidos intelectuais brasileiros, com créditos firmados como poeta, ensaísta, memorialista, cronista e historiador.
Nasceu em maio de 1931 em São Paulo, viveu em Fortaleza dos 3 aos 14 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1943, e, em 1957, forma-se no Instituto Rio Branco em Brasília, a escola para diplomatas. Em 27 de julho de 2000 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras e, em 2002, torna-se Presidente da instituição, até 2003.
Como historiador e africanólogo é uma autoridade a nível mundial, para quem a cultura africana é um alicerce da cultura brasileira, que também se reflete no modo de vida africano.
Além de A Enxada e a Lança: A África antes dos Portugueses, as suas obras A Manilha e o Libambo: A África e a Escravidão, de 1500 a 1700, e Um Rio Chamado Atlântico: A África no Brasil e o Brasil na África, revelam o estilo narrativo colorido e claro de Alberto da Costa e Silva.
Também escreveu dois livros para jovens sobre a África. Os seus escritos memorialísticos são igualmente, e sobretudo, pedaços da história e vivência dos locais por onde passou, como diplomata e como viajante.
Em 2018, publicou também na coleção «Olhares», da Imprensa Nacional, o título Ficções da Memória.