“Ao Ministro do Reino
Ill.mo e Ex.mo Snr. = Bem que o meu constante empenho seja sempre o de concorrer para a prosperidade deste rico Estabelecimento que administro, não me considero autorizado no caso que vou expor a vossa Excelência para tomar sobre ele alguma resolução. Na oficina da gravura de punções e matrizes, para a fundição dos tipos, que é uma das riquezas da Imprensa Nacional, tenho eu um mui habil abridor, chamado Manuel Luis Roiz Viana, operário muito antigo desta Casa e que nela trabalha há trinta e oito anos. Tem sido até agora mui tenue para o seu merecimento o ordenado, ou antes o jornal que recebe de oito tostões diários; e a razão de se ter, apesar disto aqui conservado e mais por habito, por ser por assim dizer filho da Casa do que pelos interesses que ela lhe faz. Consta-me agora que é fortemente solicitado por um fabricante de estamparias de algodão para ir para a sua Fábrica, e se isto acontecesse seria uma grande perda para este Estabelecimento, porque neste género de gravura há mui poucos artistas hábeis, e me seria mui dificil substitui-lo. Julgo portanto mui útil, e até necessário, fazer todas as diligências para o conservar, e para isto não descubro outro meio senão o de oferecer-lhe mais algumas vantagens pecuniárias porque estou certo que constumado a esta Casa e certo da sua permanencia preferiria conservar-se nela com mais alguns interesses ao ir experimentar outros de novo e menos seguros. Podendo porem causar emulações a outros empregados da casa qualquer aumento que lhe faça de jornal ou de ordenado, e não querendo eu dar motivo a que se entenda que arbitrariamente disponho dos fundos ou interesses deste Estabelecimento, peço a V. Ex.ª me autorize a fazer qualquer arranjo pecuniário com este empregado, ficando na certeza de que eu não farei senão aquilo que julgar mais útil, e tiver por indispensável para a conservação de um Estabelecimento que eu por todos os modos procuro melhorar e enriquecer, o que em parte já tenho conseguido, e em pouco farei ver a V. Ex.ª na Conta que espero dar-lhe dos trabalhos do ano proximo passado. (…) Lisboa e Administração Geral da Imprensa Nacional 11 de Janeiro de 1838 = Ill.mo e Ex.mo Snr. Julio Gomes da Silva Sanches Secretário de Estado dos Negócios do Reino = José Liberato Freire de Carvalho” (pp. 25-26)